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X-Men: Fênix Negra


A franquia dos X-Men foi muito importante por impulsionar as produções baseadas em HQs de super-heróis. Se, hoje em dia temos mais de três filmes do subgênero, foi por causa do impacto industrial gerado pelo primeiro capítulo da série, lançado em 2000. A partir dai, tivemos diversos altos e baixos: em 2003, fomos presenteados com uma discussão social relevante em "X-2", decepcionados com a completa indiferença do roteiro em "O Confronto Final", esperançoso com os ótimos "Primeira Classe" e "Dias de um Futuro Esquecido" e preocupados com o anterior "Apocalipse" (que não acho tão ruim como a maioria). E, após duas décadas, chegamos ao encerramento de um ciclo de altos e baixos, mas que tive o prazer de acompanhar. Por isso é triste afirmar que os mutantes mereciam um final melhor do que foi entregue em "Fênix Negra".

Ambientado em 1992, Charles Xavier (James McAvoy) está lidando com o fato dos mutantes serem considerados heróis nacionais. Com o orgulho a flor da pele, ele envia sua equipe para perigosas missões, mas a primeira tarefa dos X-Men no espaço gera uma explosão solar, que acende uma força malévola e faminta por poder dentro de Jean Grey (Sophie Turner).

Essa é a segunda tentativa de tentar adaptar um dos arcos mais importantes dos mutantes nos quadrinhos, e mais uma vez, falha ao não entender o que faz esse evento ser tão importante dentro do universo dos X-Men. E a explicação para isso é óbvia, já que o roteirista é o Simon Kinberg, o mesmo que fracassou ao - tentar - trazer a Fênix para o cinema em "O Confronto Final" (e que não sabe coordenar adaptações, já que escreveu o atroz "Quarteto Fantástico"). Começando de forma positiva essa crítica, o filme tem seus acertos - mais do que imaginava, confesso. A ornamentação visual é bela, com uma forte predominância de tons alaranjados na cinematografia e um bom uso de luz e sombra em algumas sequências.

Outro grande destaque são as cenas de ação, embora muito escassas (um problema notável, por ser um filme de super-herói) são artisticamente bem concebidas, aproveitando o melhor dos poderes de cada um dos mutantes; as habilidades da Fênix, em termos visuais, são interessantes e geram momentos impressionantes como no encontro da Jean com o Magneto; a condução dessas sequências é funcional, com uma câmera agitada e enquadramentos belos que aproveitam os ótimos efeitos visuais, que são operantes até nos momentos onde há um uso excessivo; um forte destaque é todo o segmento do trem no ato-final, que consegue divertir e impressionar.

Mas o destaque vai para a Trilha Sonora de Hans Zimmer. Uau, é impressionante como cada compositor que passa pela franquia injeta sua própria musicalidade a narrativa; John Ottoman criou um senso de maravilhamento, já Henry Jackman invoca um sentimento heroico e inspirador e aqui, Zimmer trabalha com as emoções do espectador: os momentos de tensão são acompanhados das batidas aceleradas que são marca registrada de seus projetos (Dunkirk é um ótimo exemplar), nas sequências onde a emoção se faz presente, adentra um violino melancólico, é realmente impressionante, infelizmente o elemento comovente é exclusivo da trilha, já que o resto da obra não se importa com isso.

E, entrando nas falhas do projeto, a maior delas é todo o arco emocional da Jean Grey: enquanto nos quadrinhos, Chris Claremont (escritor da saga) vai gradativamente desenvolvendo todo o surgimento da Fênix Negra com cautela e mostrando o transtorno que essa força exerce na personagem, aqui o roteiro de Kinberg transforma isso em uma trama superficial que se resume a dois estados de humor da protagonista, intercalando entre a serenidade e o descontrole mental, não existe uma escalada dramática. Por sorte, a Sophie Turner é uma das melhores coisas do filme: o espectador compra o sofrimento e incerteza da Jean e, mesmo precisando evoluir mais como atriz, ela consegue expressar sentimentos de forma convincente.

O tratamento que Kinberg dá a cada um dos personagens é muito problemático, já que não condiz com as personalidades apresentadas nos filmes anteriores. Ok, a descaraterização nem sempre é algo negativo, mas ela precisa de um proposito ou uma justificativa do roteiro (como em "Os Últimos Jedi", por exemplo). Os exemplos mais incômodos disso é o Professor Xavier, que se torna um egocêntrico e perde completamente a sua áurea sabia e inteligente e o Noturno que - inexplicavelmente - se torna um psicopata. A Mistica só serve pra mostrar o quão indiferente a Jennifer Lawrence estava com a obra e o Fera continua sem acrescentar absolutamente nada de especial a narrativa. Ciclope e Tempestade são, mais uma vez, negligenciados pelo texto.

A história é completamente genérica, especialmente quando se foca na trama da personagem, personificada por Jessica Chastain. Além da atriz estar no automático, a presença dela pouco faz diferença, além de ser uma vilã com uma motivação totalmente previsível (ou seja: mais uma que quer destruir o mundo). Aliás, essa palavra resume o filme inteiro, já que não existe qualquer elemento surpreendente aqui, ou boa parte foi mostrada em trailers e material de divulgação ou é construída sem qualquer criatividade e acaba sendo fácil de desvendar (especialmente uma envolvendo a morte de um dos personagens da obra. Isso torna o ritmo entediante e a narrativa enfadonha.

Outro defeito são os Diálogos, que constantemente intercalam entre artificiais (como a frase forçada da Mistica embarcando na onda do empoderamento) e dolorosamente expositivos: os personagens explicam tudo, desde suas motivações até acontecimentos que o espectador já tem ciência, tratando o público como idiota, entregando uma experiência mastigada. O Tom sombrio e depressivo da obra se desvia completamente da linguagem empregada anteriormente, é um filme de super-herói que tem vergonha de se assumir como um.

Chega a ser triste constatar isso, mas "Fênix Negra" foi uma grande decepção. Mesmo que estivesse com as expectativas baixas, ainda é possível encontrar virtudes notáveis, embora o filme sofra com um roteiro genérico, previsível e indiferente a um material-fonte rico que, adaptado da forma correta, renderia um dos melhores trabalhos do subgênero. Infelizmente, é um encerramento amargo e esquecível.

Como disse antes: a franquia merecia um fechamento melhor...

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Título original: Dark Phoenix

Nota: ⭐⭐

Ano: 2019

Direção: Simon Kinberg

Roteiro: Simon Kinberg

Elenco: Sophie Turner, James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Alexandra Shipp, Tye Sheridan, Evan Peters, Kodi Smit-McPhee, Jessica Chastain, Brian d'Arcy James, Halston Sage.

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