top of page

Vox Lux: O Preço da Fama


Um dos gêneros musicais mais rentáveis - ou, no mínimo, o que mais impulsiona a carreira de um cantor - é a música pop. A popularidade dessas canções é muito grandiosa, embora sua maioria seja de gosto duvidoso (ouço pouco desse estilo nos tempos atuais e raramente consigo gostar de algumas quando escuto). E, claramente para alcançar o seu espaço nesse mercado tão concorrido, não é uma tarefa fácil e pode até desgastar o artista, tanto fisicamente como mentalmente. Embora toda fama seja glamourosa pela nossa ótica externa, algumas delas podem vir com um preço - como o subtítulo brasileiro afirma. Pois é essa a intenção central do roteiro de "Vox Lux"

Em 1999, a jovem Celeste sobrevive a um violento tiroteio em sua escola. Depois de cantar na cerimônia de cremação, ela se transforma em uma celebridade com a ajuda de sua irmã compositora e um gerente de talentos. Dezoito anos depois, Celeste se recupera após um incidente escandaloso descarrilar sua carreira. Em tour com seu sexto álbum, ela precisa superar as lutas pessoais e familiares, os desafios da maternidade, sua loucura e fama inabalável para retomar sua carreira de sucesso.

Dividido em quatro segmentos, Vox Lux é uma interessante e intensa crítica a indústria musical como um todo, e não especificamente ao gênero pop, na qual o filme utiliza como plano de fundo. O roteiro de Brady Corbet (que assina a direção) é astuto ao mostrar a deterioração física e mental de sua protagonista, decorrente de sua carreira exaustiva ("você está mais magra do que eu", afirma sua filha, interpretada por Raffey Cassidy). A cena que exemplifica o transtorno cerebral causado pelos traumas de sua vida é aquela em que conversa com sua irmã- personificada por Stacy Martin - antes do capítulo final.

Falando nisso, é importante elogiar os diálogos de Corbet, inserindo interações muito bem escritas e geralmente naturais, em alguns momentos, remetendo levemente ao trabalho do Richard Linklater (especialmente na Trilogia Before), além do ótimo controle das cenas, que tem uma direção muito cuidadosa. Outro acerto do diretor é a ostentação de suas atrizes: a forma como ele desliza a câmera por volta da Raffey Cassidy (que também personifica a Celeste no primeiro segmento do filme) e da Natalie Portman e o fato dele estar sempre focando nas reações de ambas a determinados acontecimentos permite uma conexão poderosa com a protagonista.

E, falando nela, é necessário também exaltar o brilhante trabalho da Natalie Portman e da Raffey Cassidy: a primeira entrega uma performance que tem a mesma qualidade de outras da sua carreira, o fato de não compartilhar semelhanças com outras personagens de sua carreira. Ela dá a sua Celeste, estilo e extravagância, a movimentação corporal e os trejeitos conferem uma protagonista agitada, porém não desprovida de erros e de traumas, a forma como o roteiro desenvolve o estudo de sua persona é fascinante, nunca julgando as suas ações. Certamente, uma das melhores performances femininas de 2018.

Outra que está fantástica é a Raffey Cassidy, que oferece uma áurea muito mais reprimida e doce a sua Celeste, criando uma admiração imediata pela personagem. A Estrutura Narrativa é separada por duas metades, divididas por dois capítulos. A primeira metade de Vox Lux é a mais fraca, ao meu ver: confesso que não seja necessariamente ruim, mas o filme demora a realmente iniciar e o ritmo é bem estafante, felizmente a segunda parte é mais atrativa, e isso acaba se tornando um incômodo válido, porém sem muito peso. O problema real que encontro aqui, são as narrações do Willem Dafoe, que não acrescentam a trama e são desnecessariamente expositivas.

Visualmente, o filme é exuberante: A Cinematografia exerce uma atmosfera fria e distante em vários momentos de sua primeira metade, assim como confere luxuosidade e elegância no segundo segmento, o uso da luz é cuidadoso e imprime uma beleza discreta (como no início do "prelúdio"), o Design de Produção e o Figurino ajudam nessa composição estilosa. A Montagem tem um cuidado com as trocas de ambiente e tom, transitando com ordem entre os diferentes núcleos da obra. A Trilha Sonora instrumental do Scott Walker cria um desconforto constante e as músicas criadas para o filme são excelentes, além de muito bem adicionadas na narrativa.

Com um encerramento semelhante ao feito em Bohemian Rhapsody, mas conseguindo um resultado muito melhor que o filme citado, Vox Lux é um fascinante estudo de personagem e uma crítica inteligente a indústria musical, acompanhado de excelentes interpretações centrais, uma estética fabulosa e uma liberdade criativa absoluta para contar uma história fictícia, porém com um fundo realístico que a transforma em uma obra poderosa e que não deve ser perdida.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

Título Original: Vox Lux

Nota: ⭐⭐⭐⭐

Ano: 2018

Direção: Brady Corbet

Roteiro: Brady Corbet

Elenco: Natalie Portman, Raffey Cassidy, Jude Law, Stacy Martin, Jennifer Ehle, Christopher Abbott, Willem Dafoe.

Follow Us
  • Twitter Basic Black
  • Facebook Basic Black
  • Black Google+ Icon
Recent Posts
bottom of page