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Capitão América: Guerra Civil


Depois de um - relativamente - longo processo de desenvolvimento de cada um dos personagens que aparecem aqui, no terceiro filme do Capitão América acabam se dividindo, a partir do estabelecimento de um tratado que tire a "liberdade" desses super-heróis de poderem agir. Em lados antagônicos, as equipes se enfrentam em um aeroporto, no encerramento do segundo-ato, mas, é interessante a complexidade por trás dessa cena: em momento algum, eles tem a intenção de "matar" uns aos outros. A ideia era neutralizar e prender aqueles que se opuseram a serem "submissos" ao governo, enquanto o lado contrário tinha como intenção alcançar o avião que levariam eles ao espaço da conclusão. O motivo? Simples, aqueles personagens eram aliados.

Não é qualquer filme de herói que cria uma complexidade entre seus personagens como esse.

Devido a acontecimentos como a batalha de Nova York no primeiro Vingadores, a destruição da base da S.H.I.E.LD. em O Soldado Invernal e da cidade de Sokovia em A Era de Ultron, o governo decide por um fim nisso e cria um tratado, definindo que os super-heróis devem passar por um registro para serem utilizados somente quando uma autoridade governamental maior decidir. Isso divide os personagens, colocando Tony Stark do lado a favor e Steve Rogers contra, forçando um embate ideológico e físico entre os personagens.

Não se deixem levar pelo título: a "Guerra" que dá nome a obra é algo muito mais sutil e construído com delicadeza pelo maravilhoso roteiro do Christopher Markus e Stephen McFeely que faz algo que outras obras do subgênero raramente se ousam a propor: Guerra Civil faz o seu público refletir. Aqui, os constantes - e brilhantemente bem desenvolvidos - embates sobre o papel do herói, vigilantismo x heroísmo, o valor e a importância da liberdade tem um peso maior sobre a narrativa do que as sequências de ação e momentos empolgantes de um blockbuster, isso é raro de se ver em um filme de super-herói e diferencia esse de outras produções do nicho.

O que ajuda a construção desses confrontos são os excepcionais diálogos. Os embates ideológicos do Tony com o Steve ganham um peso muito forte na narrativa através de conversas intensas e bem trabalhadas, além do adicional do alívio cômico com piadas inteligentes e perfeitamente dosadas, nunca destoando das cenas mais importantes e sérias, o Tom da obra é muito equilibrado. Vale destacar também o vilão: Zemo é o antagonista ideal para essa trama, mesmo que sua participação pouco faça diferença, ainda assim é um personagem bem construído pelo texto, com motivações plausíveis e - quem diria! - uma atuação competente de Daniel Brühl.

Não era necessário desenvolver os personagens apresentados aqui, até pelo fato dos mesmos já terem sido construídos nos filmes anteriores. O desafio dos irmãos Anthony e Joe Russo (responsáveis pelo fantástico O Soldado Invernal) era permitir que cada um deles tivessem sua participação ou seu "momento" e tinham como trabalho introduzir dois novos personagens: Pantera Negra e Homem-Aranha. Começando pelo T'Challa, o Chadwick Boseman conseguiu passar perfeitamente a imponência e presença forte do personagem nas HQs aqui, as motivações e intenções de seu personagem são alheias as dos demais nesse embate. E o que dizer de Tom Holland? Finalmente tive o prazer de ver esse personagem que tanto amo de forma extremamente fiel, superando até o Tobey Maguire em termos de fidelidade, com uma performance engraçada e jocosa.

Os demais personagens estão ainda melhores: O Paul Rudd e o Jeremy Renner, mesmo sem motivações para estar nesse confronto, funcionam muito bem levando em consideração o elemento que citei no parágrafo de abertura. A Elizabeth Olsen está ótima ao ter um autoquestionamento sobre o que ela representa para sociedade; a Scarlett Johansson consegue exibir uma dualidade impressionante nas motivações da Black Widow; o Paul Bettany, Don Cheadle e o Anthony Mackie estão mais a vontade em seus papeis, já a Emily VanCamp e o Martin Freeman não acrescentam nada a narrativa.

E finalmente chegamos aos centros desse embate: O Robert Downey Jr. sente todo o peso de suas ações como Homem de Ferro, é a performance mais sombria e emocionalmente carregada, o arco pessoal de seu personagem é muito bem conduzido e o ator tem espaço de sobra para demonstrar o seu enorme talento como ator. Outro que simplesmente brilha aqui é o Chris Evans, ao passar uma imagem menos patriótica e mais humana ao Capitão América, o texto também ajuda fortemente, evoluindo a sua jornada e todos os seus princípios e valores, trabalhando com perfeito cuidado e fechando a sua trilogia de forma correta.

As sequências de ação de Guerra Civil são deslumbrantes: as primeiras tem um estilo urbano, com o uso da "shake-in-cam" e cortes rápidos que remetem aos filmes da franquia Bourne, retirando a obra daquele universo fantasioso dos demais trabalhos do estúdio e coloca ele em uma vertente mais realista e humana, marca registrada dos irmãos Russo. Outro destaque é, logicamente, a cena do aeroporto, com um controle geográfico incrível e feita numa escala menor, diferente do que geralmente é feito nesse subgênero. Mas, o destaque vai para a luta final, onde os diretores e roteiristas conduzem o segmento inteiro com um senso emocionalmente forte em uma briga agressiva e impactante para o universo Marvel. A Trilha Sonora do Henry Jackman constroem um senso épico muito grandioso e os efeitos visuais são inacreditavelmente imperceptíveis.

Capitão América: Guerra Civil é audacioso e extremamente bem sucedido em sua proposta: uma obra menos fantasia e mais humano, que discute temas importantes de forma inteligente e consegue criar um embate completamente justificável, com um encerramento digno e que implica em mudanças drásticas no Universo Cinematográfico Marvel. Os Irmãos Russo tiraram os fãs da mesmice do subgênero e nos levaram a um outro nível, nesse clássico dos filmes de super-heróis.

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Título Original: Captain America: Civil War

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Ano: 2016

Direção: Anthony e Joe Russo

Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely

Elenco: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Sebastian Stan, Anthony Mackie, Don Cheadle, Jeremy Renner, Chadwick Boseman, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Paul Rudd, Emily VanCamp, Tom Holland, Daniel Brühl, Frank Grillo, William Hurt, Martin Freeman, Marisa Tomei, John Kani.

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