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Vidro


M. Night Shymalan tem uma filmografia bem curiosa, diga-se de passagem, muito pelo fato da qualidade de suas obras irem decaindo constantemente: o diretor começou sua carreira com o consagrado "O Sexto Sentido", onde demostrou sua sutileza na forma como trabalhou com o suspense psicológico e construiu uma revelação impactante no seu ato-final. Após isso, tiveram os excelentes "Corpo Fechado" e "Sinais", daí ele dividiu público/crítica com "A Vila" e afundou a carreira com os desastrosos "Fim dos Tempos", "A Dama na Água", "O Último Mestre do Ar" e "Depois da Terra". Sua carreira foi gradativamente sendo resgatada pelos elogiados "A Vista" e "Fragmentado" que criaram a esperança de que o diretor pudesse fazer filmes bons novamente. Pois é....

Após a conclusão de Fragmentado (2017), Kevin Crumb (James McAvoy), o homem com 23 personalidades diferentes, passa a ser perseguido por David Dunn (Bruce Willis), até o momento que são capturados pela Dr. Ellie Staple (Sarah Paulson), que estuda pessoas que acredita terem superpoderes. O jogo de gato e rato entre o homem inquebrável e a Fera é influenciado pela presença de Elijah Price (Samuel L. Jackson), que manipula os encontros entre eles e mantém segredos sobre os dois.

A Direção de M. Night Shymalan - em relação aos aspectos técnicos - pode ser considerada a melhor coisa do filme. É quase um consenso geral de que o diretor sabe trabalhar o visual de suas obras com muito cuidado e um controle absurdo: a câmera se desloca pelos ambientes com uma calma muito enervante, desde travellings até movimentos rápidos que trocam o foco de um personagem para o outro, os enquadramentos são inteligentes e bem-elaborados, há belos planos que criam uma estética que flerta o sombrio com o fantástico.

As rimas e brincadeiras visuais são muito inteligentes e deixam o visual ainda mais rebuscado (como o pedaço de vidro ensanguentado no meio de outros cacos), a Trilha Sonora do West Dylan Thordson totalmente calcada em um violino berrante e tenso adiciona uma particularidade a obra, assim como as cenas de ação, que são filmadas de forma mais urbana e muito menos fantasiosa do que de costume no subgênero, dando um aspecto humano as lutas. O uso das cores é muito inteligente ao pintar os ambientes de acordo com a palheta pessoal dos protagonistas: o verde do David, o alaranjado/amarelado do Kevin e o roxo do Mr. Glass.

Em termos visuais, não há defeitos em "Vidro", o problema dele está no seu roteiro: escrito pelo próprio Shymalan, o diretor/roteirista deixa claro mais uma vez a sua inexperiência atual no que diz respeito a escrever o argumento da obra. Os problemas do filme ficam mais enfatizados no segundo ato, onde os personagens são internados no hospital psiquiátrico, daí pra frente, a obra começa a se perder cada vez mais. Primeiro que a história é mal-desenvolvida, se tornando rasa e até soando com inexistente. A Montagem durante esse segmento deixa o filme parecendo uma colagem de cenas, uma transpassando a outra sem qualquer organização.

O Ritmo é entediante, especialmente no segmento central, onde quase nada de realmente relevante acontece. Outro erro do segundo ato da obra é tentar levantar discussões sobre se os personagens realmente possuem aqueles poderes, sendo que os filmes anteriores claramente mostraram que David Dunn, Kevin e Elijah realmente tem habilidades super-humanas, o que acaba gerando uma contradição com os capítulos antecessores da trilogia; e pior é o fato de que esse questionamento é abandonado no terceiro capítulo. Há também a insuportável necessidade do roteiro de deixar tudo explicado para que o público não tenha dúvidas.

E ai entram os diálogos expositivos, explicando fatos que ou estamos vendo ou poderia ter sido mostrado de uma forma mais inteligente, a falta de sutileza do roteiro de Shymalan é muito forte, além das conversas entre os personagens serem compostas por frases de efeito cafonas ou sem inspiração; também há várias ideias mal-trabalhadas (como a fraqueza do David e Kevin) e o filme é longo demais, tem diversas cenas que poderiam ser retiradas do filme e não faria diferença narrativa alguma, são 2h e 9min de duração que poderiam ter 20 ou 30 minutos a menos.

O mais triste de tudo é ver que os personagens não tiveram o tratamento merecido, mesmo que o elenco esteja ótimo, com um claro destaque para a Sarah Paulson e James McAvoy. O David Dunn é negligenciado pelo roteiro, virando um personagem completamente unidimensional, o mesmo vale para o Mr. Glass que ocupa o posto de "vilão genérico com plano mirabolante", o Kevin e a Dr. Ellie Staple são mal-trabalhados pelo enredo - especialmente a dra. Staple, cujas as motivações são incompreensíveis. Já a presença do Joseph, Casey e Mrs. Price aparentam ser puro fanservice, mas tem uma função compreensível no encerramento.

"Vidro" é uma enorme decepção: mesmo com um visual chamativo e uma meia hora inicial muito competente, esses elementos não apagam um roteiro muito problemático, com diversos elementos mal-desenvolvidos e personagens sem um aprofundamento maior. E como se não bastasse, ainda somos brindados com um terceiro ato anti-climático e risível, graças a três twists extremamente convenientes e sem qualquer impacto. Em resumo, é uma decepção e já tem uma vaga para minha lista de piores filmes de 2019.

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Título Original: Glass

Nota: ⭐⭐

Ano: 2019

Direção: M. Night Shymalan

Roteiro: M. Night Shymalan

Elenco: James McAvoy, Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Anya Taylor-Joy, Sarah Paulson, Spencer Treat Clark, Charlayne Woodard

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