Shazam!

João Marco
8 de abr. de 2019
3 min de leitura

O universo compartilhado da DC Comics foi caminhando por uma estrada bem espinhosa: começou mal com o problemático Man of Steel (2013) e o desastroso Batman v Superman: Dawn of Justice (2016), que erraram fortemente na sua proposta mais "humana" e "realista", pelo fato de não encaixarem com os personagens da editora. Logo após, veio o horrendo Suicide Squad (2016), a tentativa falha de criar um filme menos sombrio que os outros dois. Os "acertos" começaram com os medianos Wonder Woman e Justice League (2017) e no ano passado, com o ótimo Aquaman. Agora, temos mais uma tentativa ambiciosa do estúdio. Mas, será que realmente deu certo?

Billy Batson tem apenas 14 anos de idade, mas recebeu de um antigo mago o dom de se transformar em um super-herói adulto chamado Shazam. Ao gritar a palavra "Shazam!", o adolescente se transforma nessa sua poderosa versão adulta para se divertir e testar suas habilidades. Contudo, ele precisa aprender a controlar seus poderes para enfrentar o malvado Dr. Sivana.

A Direção fica a cargo do David F. Samberg, responsável pelo excelente curta de sucesso "Lights Out" de 2013, que virou um longa-metragem também conduzido pelo próprio Sandberg três anos depois, em 2016. Como diretor, é uma condução sem qualquer traço de personalidade como eram os filmes do Zack Snyder, mesmo com seus problemas narrativos e textuais, mas ainda assim, a obra consegue dar mais um passo no caminho correto para o DCU.

Esqueça completamente a dureza e o tom fúnebre dos trabalhos anteriores, Shazam! é uma obra leve e gostosa, as cenas são mais claras, nada daquela escuridão depressiva, os personagens são mais alegres, o tom é bem mais descompromissado, inclinado mais para o campo da comédia do que para o drama, o humor é perfeito, todas as piadas encaixam muito bem e são completamente hilárias. Há uma leve cafonice no estilo da obra que lembra os filmes infanto-juvenis dos anos 80: desde o visual do uniforme, até os efeitos visuais bem exagerados e as sequências de ação risíveis, mas aqui, acrescenta um charme ao universo daquele personagem.

Os personagens são muito carismáticos, e em boa parte pelo ótimo elenco: o Zachari Levi comanda o filme, fica visível o gosto do ator de estar interpretando esse personagem e ele recheia a tela de puro carisma, assim como a versão "Billy Batson", interpretada pelo Asher Angel. Outro que está irretocável é o Jack Dylan Grazer fazendo o Freddy, as observações do personagem e o senso humorístico dele são ótimos e me divertiram durante toda a duração. O resto do elenco varia bastante entre bons e horrendos, mas os "protagonistas" e a relação entre eles é a melhor coisa do filme. Vale também ressaltar a Trilha Sonora genérica, porém muito funcional.

Porém, infelizmente nos momentos em que Shazam! tenta ser algo mais do que uma simples diversão escapista, o filme cai por terra. Mesmo que os roteiristas saibam trabalhar o humor e o senso de entretenimento, nos momentos onde a trama cai para momentos importantes e sérios, o texto não consegue criar a sensação de importância naqueles eventos, tornando-os supérfluos. A jornada do Billy é interessante, contudo o seu desenvolvimento é nulo e emocionalmente vazio, e isso acaba por deixar os propósitos de seu protagonista, compreensíveis mas não sensíveis.

Falta um envolvimento emocional com o relacionamento que eles tentam construir entre o Billy e os integrantes do orfanato, especialmente com o Freddy. Os dramas de seus personagens são cafonas e sem inspiração e não cativam. Os diálogos são terríveis e alguns são até risíveis. E essa falta de envolvimento emocional com essas figuras afeta diretamente o vilão, interpretado pelo Mark Strong, que tem uma motivação até compreensível, mas mal executada, transformando o antagonista em um mero obstáculo bobo e sem inspiração.

Shazam é leve e divertido, tem uma dupla de protagonistas que convence e consegue entreter, porém pela falta de cuidado com a emoção e o envolvimento do público com os personagens, acaba deixando a obra completamente esquecível.