Alita: Anjo de Combate
- João Marco
- 23 de mar. de 2019
- 4 min de leitura

Assim como nas adaptações de videogames, Hollywood não tem um histórico muito agradável na parte das releituras de mangás/animes, onde no histórico se encontram nos odiados Dragonball Evolution (2009), Speed Racer (2008) e Oldboy (2014), além dos recentes - e igualmente horríveis -"Death Note" e "Ghost in the Shell", lançados em 2017. Então fica a questão: será que Alita é o filme que pretende quebrar essa "maldição"? Vamos descobrir.
Uma Ciborgue chamada de Alita (Rosa Salazar) é descoberta pelo cientista Dyson Ido (Christoph Waltz). Ela não tem memórias de onde veio ou da sua criação, mas possui um forte conhecimento de artes marciais. Enquanto tenta desvendar informações sobre o seu passado, ela trabalha como uma "guerreira caçadora" e arruma um interesse amoroso, conhecido como Hugo (Keean Johnson).
A direção é do Robert Rodriguez, que tem uma das carreiras mais ecléticas da história do cinema, indo de filmes bem pesados (El Mariachi e From Dusk Till Dawn) para obras infanto-juvenis (Pequenos Espiões e As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl). Aqui, ele demonstra um exímio controle na ornamentação das cenas de ação e na construção visual do universo apresentado.
As sequências de ação são embasbacantes. Toda a construção e idealização delas mostra o cuidado da produção com as mesmas, há um uso dosado - e muito chamativo - da câmera lenta e o CGI raramente soa falso ou artificial, a estilização das cenas permite lutas muito inventivas, isso sem mencionar as corridas de "motorball" (uma espécie de quadribol desse universo), que são conduzidas com uma atenção muito clara aos detalhes e sem recorrer a uma edição carregada para criar o senso de energia. A Cinematografia dá a "iron city" um visual simpático e acolhedor nas cenas diurnas e opressor/perigoso nos momentos noturnos e há alguns enquadramento que captam a beleza daquele universo.
A Trilha Sonora, mesmo não muito memorável, incita o épico e grandioso em algumas cenas específicas. Os Efeitos Visuais são deslumbrantes, com momentos que chegam a desafiar a veracidade do que o público está vendo em cena. A Estética cyberpunk é muito bem utilizada e fechando os elogios, vamos a melhor coisa do filme: Alita. Poucas personagens são bem desenvolvidas como ela, mostrando uma doçura muito acolhedora, mas provando que poderia lhe matar em questão de segundos. A jornada da personagem é engajante e chega a ser impossível não se ver torcendo para a protagonista alcançar seus objetivos. Isso sem falar no fabuloso trabalho de motion capture e na excelente interpretação da Rosa Salazar.
Enfim, chegamos ao Roteiro e todas as qualidades que o filme tem caem por terra. Primeiro, como um grande fã de Ficção Científica, tenho um pouco mais de exigência com as produções desse gênero. É claro que nem toda ficção científica precisa ser "2001: Uma Odisseia no Espaço". Mas, se uma obra carrega certas temáticas que poderiam gerar uma discussão interessante, é importante que o texto saiba desenvolver esses assuntos. Pois bem, acho que depois desse discurso eu não preciso dizer que "Alita: Anjo de Combate" não consegue fazer isso, né?
Mas eu digo: não consegue!
Infelizmente, as boas discussões que a obra poderia levantar são completamente ignoradas. A discussão social sobre a separação das classes e o estudo psicológico sobre a relação dos humanos com as máquinas não tem desenvolvimento algum e são completamente esquecidas, diferente do que filmes como "Elysium" (que certamente se inspirou no mangá Alita) e "Ex_Machina" fizeram, por exemplo. Além disso, o filme não consegue criar laços emocionais convincentes com aqueles personagens, afetando nosso envolvimento com eles. Muitos desses problemas é por conta da "americanizada" que os realizadores injetaram no roteiro.
E no final, acaba sobrando uma história genérica e previsível, com diversos problemas de ritmo (especialmente no segundo ato), deixando a impressão de que o filme é mais longo do que o tempo original de duração. O romance envolvendo a Alita e o Hugo é simplesmente uma grande digressão que não acrescenta absolutamente nada na narrativa e deixa a trama mais cansativa. Há uma infinidade de clichês que são muito mal-utilizados e tira quaisquer autenticidade que a obra tentou ter. Há um excesso de exposição, com diversos acontecimentos e conceitos que são verbalizados ao invés de mostrados e os Diálogos parece que saíram de uma novela, de tão cafona e bobos que eles soam.
O Elenco de apoio é inconsistente: o Christoph Waltz está muito bem como uma figura paterna que serve de molde para o crescimento da Alita. O Mahershala Ali e a Jennifer Connelly estão operantes, mas sem interpretações que irão marcar a carreira dos atores. O Keean Johnson não precisava estar no filme, além de um péssimo personagem, o ator não consegue entregar o drama do Hugo. o Ed Skrein esta muito exagerado e cafona na performance que oferece, mas ele surpreendentemente funciona e pode se considerar a melhor atuação dele (pelo menos, das que assisti).
"Alita: Battle Angel" tem um visual deslumbrante, empolgantes e excepcionais sequências de ação e uma ótima protagonista, mas infelizmente não tem o calibre para desenvolver com profundidade os seus temas e sofre com a "ocidentalização" da maioria das adaptações de mangá/anime, oferecendo apenas uma trama convencional e sem inspiração, disfarçada por um cuidado estético exuberante.
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Título Original: Alita: Battle Angel
Nota: ⭐⭐⭐
Ano: 2019
Direção: Robert Rodriguez
Roteiro: Robert Rodriguez, James Cameron e Laeta Kalogridis
Elenco: Rosa Salazar, Keean Johnson, Christoph Waltz, Jennifer Connelly, Ed Skrein, Mahershala Ali, Jackie Earle Haley, Lana Condor, Eiza González,
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