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Se a Rua Beale Falasse

  • João Marco
  • 19 de fev. de 2019
  • 3 min de leitura

Talvez a arte que mais brinque com o nosso emocional seja o cinema. Em muitas obras, nos pegamos torcendo pelo "mocinho", detestando as atitudes do "vilão" ou querendo que aquelas "almas gêmeas" acabem por ficar juntas. Todas as formas de arte trabalham com nossos sentimentos, mas poucas fazem isso com uma perfeição absoluta do que a sétima arte. Pois bem, aqui temos um ótimo exemplo do poder que uma expressão artística pode exercer no espectador.

Baseado no romance de James Baldwin, o filme acompanha a história de Clementine "Tish" Rivers (Kiki Layne), uma esposa grávida do Harlem que luta para livrar seu amado esposo, Alonzo "Fonny" Hunt (Stephan James) de uma acusação criminal injusta e de subtextos racistas a tempo de tê-lo em casa para o nascimento de seu bebê.

A direção é do consagrado Barry Jenkins, que dirigiu o vencedor do Oscar de melhor filme, Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016), construindo em If Beale Street Could Talk, o trabalho mais encantador de sua recente carreira. O diretor não dirige o filme somente com as técnicas cinematográficas que ele sabe utilizar tão perfeitamente, mas ele conduz a obra com o coração, criando uma experiência que flerta com o emocionante e o socialmente pesado, sem nunca perder o tom doce e encantador de sua história.

O Roteiro, escrito pelo próprio Jenkins, trabalha perfeitamente uma história "comum" entre o romance dos seus personagens, mas desconstruindo diversos recursos narrativos do gênero, construindo um romance muito íntimo e original. Falando em intimismo, o filme trabalha perfeitamente com sentimentos profundos em diversos enquadramentos ou sequências que não contém absolutamente diálogo nenhum, deixando a carga emocional daquele momento aos atores e o trabalho técnico. Logicamente há diálogos no filme, mas são muito bem construídos, além de serem muito fortes e profundos. A sutileza que o diretor/roteirista introduz ao filme, deixa a experiência cinematograficamente muito rica, além de abrir espaço para discussões relevantes sobre racismo serem trabalhadas com uma perfeição absurda.

Infelizmente, esses momentos sutis não apagam o exagero verborrágico de Se a Rua Beale Falasse: a obra se contradiz ao inserir momentos expositivos que não servem o proposito da narrativa e soam deslocados, além de um voice-over da protagonista, que é extremamente cansativo e, em certos momentos, chega ao cúmulo de descrever o que se ocorre em certas cenas que o espectador claramente está conseguindo compreender o que acontece naquele momento, o que deixa a obra oscilando constantemente entre o sutil e o expositivo. A Estrutura Narrativa não-linear é muio bem utilizada na condução narrativa e bem acompanhada de uma ótima Montagem, que percorre os períodos temporais da trama, sem a deixar confusa.

Tecnicamente, é um espetáculo: A Cinematografia predominantemente coberta de tons bege e marrom do James Laxton preenche o clima da obra com uma sensação constante de melancolia e conforto, especialmente nos momentos em que a narrativa se situa no passado, o trabalho de luz dos ambientes internos ajuda a imergir o espectador nesse ambiente. Os Enquadramentos são encantadores, muitos planos são fechados no rosto dos atores, deixando o talento de seu elenco ser admirado pelo público.

A Trilha Sonora do Nicholas Britell (que trabalhou com o Adam McKay no ótimo A Grande Aposta e no fraco Vice) é um verdadeiro catalisador de emoções, com um violino triste e desesperançoso, incitando o peso das lembranças nas sequências do passado. O Jogo de Câmera é deliciosamente calmo, se deslocando pelas sequências com um controle perfeito e fazendo o espectador entrar nas sequências. O Design de Produção e o Figurino além de exercerem uma ótima reconstrução de época, auxiliam o espectador a compreender os sentimentos dos seus personagens.

A Kiki Layne e o Stephan James estão perfeitos, entregando a emoção e o sofrimento que passam os seus personagens, além de terem uma química absolutamente impecável, fazendo o público realmente comprar o romance do casal. Mas a estrela do filme é a Regina King que, mesmo aparecendo muito pouco em cena, oferece uma interpretação digna de Oscar, fazendo uma mãe calorosa e que internaliza boa parte de seus sentimentos, até não poder aguentar mais, o cuidado que atriz teve com a construção dessa personagem é quase o suficiente para ela levar o prêmio de "melhor atriz coadjuvante".

If Beale Street Could Talk pode acabar sofrendo de problemas com o exagero de exposição que há na narrativa, mas é um belo drama que demonstra o quão forte e poderoso é o amor, e que, somente ele, pode quebrar preconceitos e discriminações. Não é perfeito, mas é uma obra extremamente necessária que merece muito sua atenção.

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Titulo Original: If Beale Street Could Talk

Nota: ⭐⭐⭐⭐

Ano: 2018

Direção: Barry Jenkins

Roteiro: Barry Jenkins

Elenco: KiKi Layne, Stephan James, Regina King, Teyonah Paris, Colman Domingo, Brian Tyree Henry

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