Green Book - O Guia
- João Marco
- 4 de fev. de 2019
- 3 min de leitura

Houve diversas injustiças nas indicações do Oscar 2019, e, inclusive na categoria de "melhor filme" que poderiam ter sido indicados os fantásticos A Balada de Buster Scruggs, O Primeiro Homem, Hereditário, Não Deixe Rastros e muitos outros. Mas, lá vai a academia e indica um filme completamente mediano a cinco categorias (!), incluindo a categoria principal da noite.
Quando Tony Lip (Viggo Mortensen), um segurança Ítalo-americano, é contratado como motorista do Dr. Don Shirley (Mahershala Ali), um pianista negro de classe alta, durante uma turnê pelo sul dos Estados Unidos, eles devem seguir "O Guia" para levá-los aos poucos estabelecimentos que eram seguros para os afro-americanos. Confrontado pelo racismo, eles são forçados a deixar de lado as diferenças para sobreviver e prosperar nessa jornada.
A direção é do Peter Farrelly, conhecido pelos filmes Dumb & Dumber (1994), There's Something About Mary (1998) e Me, Myself & Irene (2000). É um diretor de humor, fazendo aqui o trabalho mais diferente de sua carreira, mas honestamente, isso não significa muita coisa. Um dos problemas reside na tentativa falha de misturar duas visões completamente diferentes para contar essa história real: a primeira é mais critica, dramática e séria, enquanto a segunda é mais leve e descontraída, com um foco maior no humor. O erro aqui é o fato desses dois "gêneros" não conseguirem se unir de forma coesa, o Tom da narrativa é muito desorganizado e indeciso sobre qual gênero ele faz parte.
Mas esse está longe de ser o problema central da obra, esse mérito é do Roteiro, também escrito pelo Peter Farrelly. Aqui, temos uma história muito interessante e que, se fosse bem construída, poderia perfeitamente ser um dos melhores filmes a respeito do assunto. Infelizmente, o desenvolvimento narrativo de Green Book dá privilégio ao clima "feel-good" estabelecido para ele, o que deixa a parte "socialmente relevante' mais enfraquecida. Além de muito previsível, o texto não trabalha bem os temas fortes que ele carrega, deixando essas temáticas supérfluas.
Ainda nos problemas do roteiro, outro grande erro é a falta de sutileza nos (poucos) momentos em que a obra tenta fazer comentários sociais fortes, são cenas construídas de forma extremamente cafona e sem qualquer inspiração, se tornando bobas e esquecíveis, enquanto deveriam ser sérias e fortes. Os Diálogos também não são bons, com conversas e momentos completamente genéricos e previsíveis, palavra essa que define a narrativa inteira do filme, conduzida sem qualquer tipo de inspiração, o que acaba permitindo o espectador deduzir (e acertar) absolutamente tudo que acontecerá na obra.
Mas, por incrível que pareça, Green Book não chega a ser um filme necessariamente "ruim", já que há qualidades que impedem ele de ser horroroso: a parte "road-movie da obra é muito bem trabalhada pelo diretor, é divertida e mesmo com todos os problemas do roteiro, consegue deixar o espectador, no mínimo, interessado. Outra qualidade do filme é o elenco: o Viggo Mortensen faz um personagem duro e meio arrogante por fora, mas perfeitamente bondoso e amável por dentro, deixando esse lado florescer na sua relação com o personagem do Mahershala Ali, que cria um personagem inteligente, elegante e charmoso com uma facilidade ímpar, ele merece o prêmio de "Ator Coadjuvante".
A Química dos dois é perfeitamente bem construída, a amizade dos personagens é perfeitamente crescente e o relacionamento deles é honesto e muito belo, além dos atores entregarem a emoção dos personagens. Visualmente, o filme é lindo e charmoso: a Cinematografia sabe exatamente variar de colorações alaranjadas e azuladas, de acordo com a necessidade da cena, há uma predominância muito forte de tons esverdeados e azuis também. A Iluminação é discreta, especialmente dentro dos ambientes e os enquadramentos são muito bonitos.
A Trilha Sonora, movida a base de Jazz e música clássica é perfeitamente adequada ao estilo da narrativa. Já a Montagem é oscilante: há momentos que ela funciona muito bem não permitindo que certas cenas se alonguem muito além do necessário, mas, por outro lado, ele permite que certas cenas "bobas" sejam incluídas na narrativa, deixando o filme muito longo, são 2h e 10min de duração, sendo que somente 1h e 45min seriam suficiente para mover a narrativa. A reconstrução de época é ótima, com um Design de Produção e Figurino que recriam muito bem a estética setentista da obra.
Green Book é uma das "zebras" do Oscar desse ano: mesmo muito bem feito em seus quesitos técnicos e contendo um elenco empenhado, é enfraquecido por um roteiro genérico, cafona e extremamente previsível e um tom completamente indeciso. O que poderia ser um road-movie crítico e sutil, virou uma comédia problemática e exagerada.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

Título Original: Green Book
Nota: ⭐⭐⭐
Ano: 2018
Direção: Peter Farrelly
Roteiro: Nick Vallelonga, Brian Hayes Currie e Peter Farrelly
Elenco: Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini
Comments