O Primeiro Homem
- João Marco
- 6 de jan. de 2019
- 4 min de leitura

Damien Chazelle é um diretor que teve uma das ascensões mais impressionantes do cinema atualmente: Ele começou a sua carreira como escritor em filmes como Toque de Mestre (2014), além do curta "Whiplash", que ele transformou em longa-metragem, na qual ele dirigiu e roteirizou em 2014, e começou levando 3 Oscars, incluindo a categoria "melhor ator coadjuvante". Em 2017, ganhou o Oscar de 'melhor diretor" por La La Land, além de outros 6 prêmios. E, mais uma vez, ele nos presenteia com uma experiência avassaladora.
A cinebiografia da vida do legendário astronauta americano Neil Armstrong (Ryan Gosling), de 1961 a 1969, em sua jornada para se tornar o primeiro humano a caminhar na lua. Explorando os sacrifícios e custos na Nação e no próprio Neil, durante uma das mais perigosas missões na história. A direção é do excepcional Damien Chazelle, que, como falei anteriormente dirigiu os excepcionais La La Land e Whiplash, chegando a mais um projeto de sua carreira e demonstrando uma total versatilidade em relação a história e visual empregados aqui. First Man não lembra a nenhum dos seus trabalhos anteriores, especialmente em seu apuro técnico e visual.
E falando nele, esse é um dos maiores destaques de First Man: A Cinematografia do Linus Sandgren (que recebeu o Oscar com La La Land) é repleta de grãos, com um claro uso de tons alaranjados e azulados, um trabalho de Iluminação perfeito, com muito destaque em cenas com a luz delineando o contorno de seus personagens, os enquadramentos são belíssimos e reforçam o cuidado visual da obra. Outro elemento que merece destaque é a câmera, que utiliza o recurso "câmera tremida" e planos fechados, que demonstra a proposta intimista da narrativa. Os Efeitos Visuais são sensacionais, desde da composição até a veracidade, são extremamente perfeitos, outro elementos que merece um destaque é o Design de Som, com uma textura que o deixa assustador.
A Trilha Sonora do Justin Hurwitz (que também trabalhou em La La Land) encontra um perfeito equilíbrio entre o grandioso e o minimalista, com um dos melhores trabalhos musicais de 2018. A reconstrução de época faz um excelente trabalho de recriar a estética dos anos 60, especialmente no figurino. A Montagem do Tom Cross cria um ritmo paciente, mas nunca moroso, embora falhe na duração do filme, já que o mesmo é muito longo, e isso fica visível no segundo ato, que mesmo interessante, é possível sentir o peso do tempo. Outro defeito que o filme infelizmente carrega é o lapso de tempo, que, além de muito confuso, ele é apressado em certos momentos e arrastado em outros.
O Roteiro do Josh Singer é perfeito ao adotar uma abordagem completamente diferente do tradicional para esse tipo de obra, optando por uma visão realista, crua e não-patriótica desse evento, a história não é necessariamente sobre o Apollo 11 ou "a chegada do homem a lua" e sim, sobre o processo desumano e estressante que foi a preparação para essa missão. Mas, além de tudo isso, First Man é sobre a jornada de um homem destruído pela vida e uma análise simplista sobre o peso da morte e como ela afeta as pessoas ao redor.
E, dentro dessa visão, o diretor tem a total liberdade de utilizar momentos intimistas, onde não é necessário descrever verbalmente o que se acontece naquela cena, já que o silêncio fala muito mais que qualquer outra coisa. O estudo do protagonista aqui é executado com um cuidado absurdo, já que o filme faz questão de mostrá-lo como um ser humano repleto de falhas, mas com boas intenções. O relacionamento dele com a esposa é ótimo, sendo bem desenvolvido através de momentos introspectivos, como na última cena da obra.
A Estrutura Narrativa se foca no processo de testes até o momento do lançamento do Apollo 11, construindo perfeitamente os seus personagens centrais e seus dramas de forma convincente, desenvolvendo muito bem a mensagem central da trama, que, através da união uns com os outros, somos capazes de feitos incríveis. Os Diálogos são simples, mas graças ao talento dos atores, as conversas são mais envolventes, além de muito bem dirigidas.
O Ryan Gosling interpreta um personagem cheio de falhas e conflitos, mas que em momento algum o espectador sente repulsa, pelo fato dele ser parecido com nós, não há aquela imagem do "humano perfeito" e o ator transparece isso com perfeição. A Claire Foy arrebenta ao construir uma personagem interna, que reprime suas emoções e sentimentos, mas que demonstra vários estados emocionai com uma simplicidade impressionante. Há também boas interpretações do Jason Clarke e do Kyle Chandler.
First Man é mais que somente uma cinebiografia qualquer, é uma experiência audiovisual impressionante e reflexiva que, mesmo muito longo, consegue envolver o espectador com um roteiro magnífico e um apuro técnico e visual delirantes. Um dos melhores filmes de 2018.
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Título Original: First Man
Nota: ⭐⭐⭐⭐
Ano: 2018
Direção Damien Chazelle
Roteiro: Josh Singer
Elenco: Ryan Gosling, Claire Foy, Jason Clarke, Kyle Chander, Corey Stoll, Christopher Abbott, Ciarán Hinds, Brian d'Arcy James.
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