Nasce uma Estrela
- João Marco
- 4 de jan. de 2019
- 4 min de leitura

Esta é a quarta vez na qual Hollywood conta essa história: a primeira foi lançada em 1937 com a Janet Gaynor e Fredric March, a segunda de 1954 com a Judy Garland e James Mason e a terceira, lançada em 1976 e estrelada pela Barbra Streisand e Kris Kristofferson. A industria cinematográfica americana tem o costume de não conseguir acertar em suas "adaptações", mas, mesmo com quase 90 anos desde o lançamento da primeira versão, temos aqui uma versão atualizada que honra o legado dos antecessores.
O experiente músico Jackson Maine (Bradley Cooper) descobre a jovem artista desconhecida Ally (Lady Gaga), por quem acaba se apaixonando. Ela está prestes a desistir de seu sonho de se tornar uma cantora de sucesso, até que Jack a convence a mudar de ideia. Porém, apesar de a carreira de Ally decolar, o relacionamento pessoal entre os dois começa a desandar, à medida que Jack luta contra seus próprios demônios e problemas com álcool.
A direção é do Bradley Cooper, que surpreende de forma muito positiva ao conduzir essa trama, atualizando a obra, mas em momento algum, esquecendo a "alma" que consagrou as obras anteriores (ao menos, duas delas) como eternos clássicos do cinema. Aqui, ele oferece uma experiência intimista, dramática e forte, que envolve o público e provoca diversas sensações diferenciadas no expectador. A fluidez do tom é bem consistente, mas há determinados momentos que poderiam ter sido retirados da narrativa e não iriam atrapalhar a compreensão do resto do filme, o que faz ele se alongar muito além do necessário.
O Roteiro, escrito pelo próprio Bradley Cooper e co-escrito pelo Eric Roth e Will Fetters, é maravilhoso. A História é familiar e previsível, mas a forma como a trama se desenvolve é envolvente e bem construída. Há diversas temáticas que são muito bem construídas ao redor da obra, tais como a fama, a industria musical dos dias atuais, a relação entre sucesso e vida pessoal, sonhos, há leves "pinceladas" sobre relações abusivas, há uma discussão interessante sobre vícios, é uma obra tematicamente rica a respeito do que ela quer discutir.
Além disso, a direção e o texto não perde a oportunidade de apresentar alguns momentos intimistas, onde não há diálogo ou o protagonista "didaticamente" explica a suas emoções, a câmera simplesmente para e deixa as atuações falarem, gerando três momentos memoráveis. Os personagens dessa obra constantemente passam por conflitos, e cada um deles é perfeitamente bem desenvolvido e muito verdadeiro. Os Diálogos são maravilhosos, especialmente entre as conversas que desenvolve a relação Jack/Ally de forma brilhante, além de muito emocionantes, em certos momentos.
Outro destaque reconhecível de A Star is Born está no seu elenco. Mais especificamente nos dois protagonistas do filme: O Bradley Cooper está irreconhecível na pele do Jackson Maine, incorporando as dificuldades e conflitos de sua persona, acrescentando elementos característicos como a voz grave, o forte sotaque e a movimentação corporal para criar uma das melhores interpretações de 2018. Outra que destrói aqui é (quem diria!) Lady Gaga, ao oferecer a Ally uma personalidade tímida e doce, sabendo entregar as cenas mais emotivas e os momentos mais íntimos, é a atriz da forma que o público jamais viu.
A Química dos dois é perfeita, o espectador consegue acreditar no romance entre os dois, embora eles se apressem em desenvolver o "amor" que eles sentem um pelo outro, mas eles conseguem convencer como um casal. O elenco de apoio também merece destaque, especialmente para o personagem do Sam Elliott que dá vida ao irmão do Jackson, oferecendo um certo interesse ao seu personagem, mesmo com ele aparecendo em pouco tempo no filme.
Nos aspectos técnicos, é simplesmente sensacional: A Cinematografia do excepcional Matthew Libatique (nome reconhecível da carreira do Darren Aronofsky) é maravilhosa, com um perfeito trabalho de cor, alternando entre o vermelho e o azul de forma coerente, o jogo de câmera dá ao filme um tom documentarista, pelo constante uso do shake-in-cam, sugerindo um "fã" que estaria acompanhando todos aqueles momentos, os enquadramentos são cuidadosos e ágeis ao demonstrar o sentimento de seus personagens.
O trabalho musical é estonteante, com canções maravilhosas e memoráveis como "Shallow", que tem tudo para ganhar as premiações, além das letras que se encaixam perfeitamente, como ocorre na canção final, que é emocionante e reflete perfeitamente a situação de sua personagem principal. A Montagem é esperta ao mostrar o cotidiano de seus protagonistas e a relação deles dois juntos, mas fracassa ao estender certas cenas além do necessário. E fechando o texto, temos o ótimo trabalho de Som da obra, que permite uma imersão naquele ambiente. A Star is Born é uma verdadeira carta de amor a música, que mesmo com seus defeitos e irregularidades, envolve e emociona o espectador até os créditos finais. Um dos filmes mais emocionantes de 2018.
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Título Original: A Star is Born
Nota: ⭐⭐⭐⭐
Ano: 2018
Direção: Bradley Cooper
Roteiro: Eric Roth, Bradley Cooper e Will Fetters
Elenco: Bradley Cooper, Lady Gaga, Sam Elliott, Alec Baldwin
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