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Roma

  • João Marco
  • 15 de dez. de 2018
  • 3 min de leitura

São poucas as obras que conseguem criar um mix de emoções no espectador com poucos diálogos e conversas entre seus personagens. Uma experiência cinematográfica imagética para ser realmente emocionante, é necessário já estar envolvido com aqueles personagens e com o seu universo, coisa que o mexicano responsável por uma das maiores obras-primas da ficção cientifica faz aqui com pura perfeição.

Cidade do México, 1970. A rotina de uma família de classe média é controlada de maneira silenciosa pela empregada Cleo (Yalitza Aparico), que também trabalha como babá. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças coletivas e pessoais.

A direção é do Alfonso Cuarón, que dirigiu os excepcionais Filhos da Esperança (2006) e Gravidade (2013), e depois do estrondoso sucesso do seu projeto anterior, ele decidiu conduzir uma obra mais íntima e profunda do que seus outros projetos. O resultado dessa decisão não poderia ter sido melhor, pois Roma é um dos filmes mais belos e emocionantes do ano. O diretor introduz uma doçura encantadora e uma melancolia desnorteante que transcende a tela.

O Roteiro do próprio Alfonso Cuarón é cheio de criatividade. A trama central é simples, mas o desenvolvimento narrativo faz do filme uma obra magnífica. O primeiro ato é cuidadoso ao mostrar a rotina da Cleo como doméstica e babá e desenvolve bem o laço afetivo dela com as crianças da família, é somente no segundo ato que a história realmente se inicia, e uma vez que você se envolve, o filme tem sua total atenção para construir o arco emocional da protagonista com aquela família. Há poucos diálogos na obra, mas é a simplicidade e delicadeza na forma com as cenas são construídas que transformam Roma em uma experiência sem igual.

O texto é muito inteligente em envolver emocionalmente o espectador naquela rotina mundana, além de mostrar a beleza dentro do cotidiano, elemento esse que lembra obras como Paterson (2016). Falando em semelhanças com outras obras, é impossível não assistir a Roma e não comparar com o brasileiro Que Horas Ela Volta? (2015), mas a principal diferença entre as obras seja o fato de que o filme da Anna Muylaert é mais crítico e revoltante. A sutileza da trama é encantadora, nem sempre algo é necessariamente dito, o diretor simplesmente mostra ao público, algo muito raro de se ver no cinema atualmente.

Além disso, o filme ainda levanta alguns temas interessantes sobre gravidez, separação (em uma das cenas mais sofridas da obra), traição, entre outros, mas tudo com um cuidado exorbitante e uma delicadeza sem comparação. Mas o foco de Roma está nas relações humanas, sejam elas familiares, conjugais, maternas, ele analisa nossas interações com as demais pessoas e desenvolve uma visão interessante sobre união e amor. Há um momento no ato-final que é maravilhoso e vai arrancar muitas lágrimas das maioria dos espectadores.

Além de todo o brilhantismo do roteiro, o cuidado técnico com esse filme é estonteante: A Cinematografia com a coloração preto-e-branco feita pelo próprio Alfonso Cuarón é perfeita, passando uma bela sensação de melancolia no espectador, a iluminação é cautelosa, especialmente nas cenas mais escuras, onde as sombras ganham mais destaque. Os enquadramentos são belíssimos, acrescentando beleza aos ambientes fotografados.

O Jogo de Câmera é perfeito, sempre utilizando movimentos horizontais, explorando o interior dos ambientes com movimentos em 360 graus. O Design de Produção e Figurino são maravilhosos, com uma bela recriação de época que engrandece a obra, os pequenos detalhes das cenas internas são perfeitos. A Montagem nunca permite que as cenas mais contemplativas se estendam muito além do necessário, é bem semelhante ao trabalho feito em A Árvore da Vida (2011).

Todo o elenco está muito bem e oferece camadas aos seus personagens, mas a melhor em cena é a Yalitza Aparico, que dá a figura da Cleo, uma bondade e carinho que transcendem a tela e atingem o espectador, ela é quase um anjo, pois a sua figura é muito amável e distribui sua felicidade contida a todos ao seu redor, além do total talento da atriz para expressar sentimentos, há um momento durante o começo do ato-final que é puro talento, é uma das melhores performances femininas do ano.

Roma é completamente diferente de qualquer trabalho do Alfonso Cuarón. Ele não tem o deslumbramento pela grandiosidade como Gravity nem o apelo crítico de Children of Men, mas é uma obra emocionante que ensina lições como o valor do amor com o próximo e da família, tudo de forma elegante e discreta. Uma das obras mais impressionantes do ano.

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Título Original: Roma

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Ano: 2018

Direção: Alfonso Cuarón

Roteiro: Alfonso Cuarón

Elenco: Yalitza Aparico, Marina de Tavira, Diego Cortina Autrey, Carlos Peralta, Marco Graf, Daniela Demesa, Nancy García García, Verónica García

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