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Sem Rastros

  • João Marco
  • 5 de dez. de 2018
  • 3 min de leitura

Não lembro se já disse isso aqui antes, mas direi novamente: As maiores surpresas, se tratando de cinema, envolve aqueles filmes na qual você simplesmente não dá importância ou simplesmente nem sabe que foi sequer feita. Ao iniciar de Leave no Trace, pensei: realmente não sei o que posso esperar desse novo trabalho da Debra Granik. Ao término dele, a única coisa que poderia dizer sobre a minha experiência com esse projeto foi "perfeitamente satisfatória".

Will (Ben Foster) e sua filha adolescente, Tom (Thomasin McKenzie), viveram felizes e indetectados pelas autoridades durante anos em uma vasta reserva na fronteira de Portland, nos EUA. Após um encontro inesperado, eles são retirados do acampamento e colocados sob a responsabilidade do serviço social. Will e Tom tentam retornar ao mundo selvagem enquanto são forçados a lidar com desejos conflitantes.

A direção é da Debra Granik, responsável pelo muito elogiado Winter's Bone ou Inverno da Alma de 2010, com a ganhadora do Oscar, Jennifer Lawrence. Aqui, ela conduz uma narrativa lenta e intima que desenvolve perfeitamente o seu universo e seus personagens, levando o espectador nessa jornada tão engajante. Há quem possa dizer que ele se assemelha bastante a Captain Fantastic de 2016, mas a principal diferença entre as duas obras é que o tom daquele filme era mais leve e "acessível", já esse não, se você não tiver paciência, certamente irá sentir o peso do tempo.

É tanto que, o que impede Leave no Trace de ser "perfeito", seja um segmento de 20 minutos no meio da obra, que é cansativo e simplesmente não funciona, além de ser cansativo e arrastado, depois que isso passa, a narrativa se estabiliza e caminha para um ato-final impressionante e subversivo, com um encerramento muito emocionante. O Roteiro da própria Debra Granik em parceria com a Anne Rosellini (dupla que escreveu Inverno da Alma) é cheio de inteligência. A história é simples, mas é no seu desenvolvimento que a obra encontra a sua genialidade.

O filme encontra seu brilhantismo ao focar inteiramente na relação de pai e filha do Will e Tom, construindo uma interação emocionalmente muito carregada, com um desenvolvimento perfeito das personalidades isoladas. De um lado, temos o pai atencioso e traumatizado tentando oferecer o melhor a pessoa que ele mais ama nesse mundo; do outro, temos a filha introspectiva e de emoções engarrafadas que vê no pai um refúgio. Os Diálogos internos entre os dois protagonistas são perfeitos, mas é nos silêncios que a obra se encontra, a natureza fala muito mais, aliás a ambientação é perfeita, a floresta é quase um coadjuvante.

O trabalho técnico dele merece muito destaque; a Cinematografia do Michael McDonough é rebuscada e imerge o espectador naquele ambiente, a iluminação dos cenários é maravilhosa, a coloração do ambiente segue de acordo com o estado emocional dos personagens: quando a situação está mais depressiva, a ambientação cai em um azulado depressivo, que remete perfeitamente ao tempo nublado, há diversas dessas pequenas ideias visuais no filme.

O Jogo de Câmera é controlado, executando movimentos cuidadosos, aproveitando bastante dos elementos do ambiente, os enquadramentos alternam entre planos-abertos exaltando as paisagens e close-ups que permitem os atores demostrarem as suas emoções de forma impressionante. A Montagem da Jane Rizzo também merece um destaque, logo na abertura, ela intercala vários planos que mostram o cotidiano do pai e da filha de forma eficiente e não deixando as cenas se alongarem além do necessário.

O Ben Foster está impecável, conseguindo dar a carga emocional ao seu personagem e apresentar uma figura acolhedora e bondosa, que mostra sempre querer o melhor para sua filha, mas também demostrando um trauma interno sem grandes exageros, é uma das melhores interpretações masculinas do ano. A Thomasin McKenzie dá um show ao fazer uma personagem introspectiva, mas cheia de fragilidade e humanidade, a química dos dois é perfeita, especialmente nas cenas intimas, onde é somente eles conversando.

Leave no Trace é uma obra perfeita sobre crescimento e relações paternas, jogada de forma muito bem trabalhada dentro de uma narrativa envolvente e bem construída, além de bela e emocionante. Um dos melhores lançamentos de 2018.

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Título Original: Leave no Trace

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Ano: 2018

Direção: Debra Granik

Roteiro: Debra Granik e Anne Rosellini

Elenco: Ben Foster, Thomasin McKenzie

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