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Infiltrado na Klan

Há certos filmes que deixam o espectador pensativo e reflexivo sobre o determinado tema que aquela obra comentou, e aqui temos o perfeito exemplo desse estilo de filmes. Após sair desse filme, é impossível não ficar impactado ou assustado com o nível em que a nossa humanidade chegou, é extremamente triste. Em 1978, Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.

A Direção é do Spike Lee, responsável por outras elogiadas obras como Do the Right Thing (1989), Malcolm X (1992), 25th Hour (2002) e Inside Man (2006), além de ter dirigido o criticado remake de Oldboy (2014). Aqui, ele volta as obras que, além de ricas como cinema, são um protesto aos direitos dos negros e contra práticas racistas, algo que ele faz com perfeição e sem nunca perder o controle cinematográfico de sua narrativa, como na estabilidade do tom: a trama intercala perfeitamente com os momentos divertidos e as sequências mais serias ou pesadas.

O Roteiro, escrito pelo próprio Spike Lee, oferece ao espectador uma narrativa investigativa interessante e muito bem contada, envolvendo o espectador a cada segmento e mantendo a curiosidade do público a todo momento, a estrutura narrativa é perfeita em manter o seu público dentro da trama a todo tempo, e sem perder o ritmo. Mas a genialidade de BlacKkKlansman está em sua parte crítica, mostrando de forma horrenda as atitudes dessas seitas discriminadoras e como elas agem, além disso, o texto encontra espaço para mostrar como essas atitudes corrosivas e nojentas se mantém presente até hoje.

Ele dá um soco no estômago do espectador com uma visão pesada de como essas atitudes se mantém atuais, com o seu final pesado e agressivo, que mostra caminhadas de membros dessas seitas nos tempos contemporâneos, jogando o espectador numa triste e crua realidade. Os Diálogos são impressionantes, cheios de críticas sociais e frases muito fortes. Talvez o que não funcione na obra são alguns exageros caricatos em alguns personagens racistas, são válidos, mas como obra cinematográfica acabam destoando daquela visão realista do diretor, outro problema é a tensão sexual entre o Ron e a Patrice (interpretada pela Laura Harrier), ele é desnecessário e acaba ficando avulso na trama.

Tecnicamente, o filme é um espetáculo: A Cinematografia é muito boa em captar o visual setentista da história, com uma predominância de tons amarronzados e a estética colorida do fim dos anos 70, a iluminação e o uso das cores na obra, dá uma particularidade artística a obra. A reconstrução de época é espetacular, com um vistoso Design de Produção e Figurino, recriando toda a estética daquele período.

O Jogo de Câmera é ágil, se movimentando a partir do desenrolar das sequências, seja elas tensas ou calmas, a câmera se desloca de acordo com a "situação" em si. A Montagem do Barry Alexander Brown, que trabalhou nos mais famosos filmes do diretor, é cuidadosa na transição das sequências, sem nunca perder o seu tom, além de apresentar um estilo muito "pessoal" com recursos para deixar a trama mais acessível.

A Trilha Sonora é perfeita em seus dois caminhos: a trilha instrumental é forte e incita tensão com uma guitarra discreta, mas estilosa, e as músicas escolhidas são de muito bom gosto e se mesclam bem a estética da trama. Os enquadramentos são precisos e cuidadosos, com muito uso do plano-holandês e dos planos-conjunto, com dois personagens no mesmo foco.

O John David Washington está excelente, fazendo um personagem absolutamente revoltado com o racismo ao seu redor, mas que internaliza esse sentimento de forma eficaz. Outro que merece destaque é o Adam Driver, com um personagem muito divertido, e a dinâmica do Ron e Flip é um dos elementos mais legais da trama. O Topher Grace interpreta ele mesmo, mas sempre de uma forma bacana. O Jasper Pääkkönen, Paul Walter Hauser e a Ashlie Atkinson fazem personagens caricatos e sem substância e a Laura Harrier está muito bem, embora sua personagem seja sem substância. BlacKkKlansman é mais que uma investigação policial divertida e com toques de humor, é uma crítica ácida a um mal que ainda se mantém presente nos tempos atuais. Um dos melhores filmes do ano!

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Título Original: BlacKkKlansman

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Ano: 2018

Direção: Spike Lee

Roteiro: Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Willmott e Spike Lee

Elenco: John David Washington, Adam Driver, Laura Harrier, Jasper Pääkkönen, Paul Walter Hauser, Topher Grace.

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