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Hereditário

  • João Marco
  • 26 de ago. de 2018
  • 4 min de leitura

"Every family tree hides a secret" ou "Toda árvore genealógica esconde um segredo". Esse é o slogan do material promocional de Hereditário, a mais nova obra de horror do estúdio A24 (que distribuiu A Bruxa e Ao Cair da Noite). E, assim como as outras obras do gênero, que carregam o nome do estúdio, esse é mais um filme que dividiu (e vem dividindo) opiniões. Pois bem, agora vamos conversar a respeito.

Após a morte da reclusa avó, a família Graham começa a desvendar algumas coisas. Mesmo após a partida da matriarca, ela permanece como se fosse um sombra sobre a família, especialmente sobre a solitária neta adolescente, Charlie (Milly Shapiro), por quem ela sempre manteve uma fascinação não usual. Com um crescente terror tomando conta da casa, a família explora lugares mais escuros para escapar do infeliz destino que herdaram.

Assim como The Witch e It Comes at Night (filmes do estúdio A24) sofreram com a polarização de público e crítica, o mesmo ocorreu com Hereditário. Enquanto a crítica encheu de elogios, chegando a comparar a obra com clássicos do horror como The Exorcist (1973), os espectadores casuais não conseguiram adentrar na atmosfera sombria e bizarra, proposta pelo diretor. A Direção é do Ari Aster, e o mais incrível, é o fato desse ser o seu primeiro longa. Aqui, ele mostra seu talento para conduzir uma obra do gênero.

O Roteiro, escrito pelo próprio diretor, é extremamente astucioso e perfeitamente ambíguo, na maior parte do tempo. O filme não se utiliza de uma estrutura narrativa convencional, possuindo apenas dois atos: o primeiro, focado em estudar o luto (e como uma família lida com isso), elementos de drama familiar com o terror psicológico, já o segundo ato explora mais a área das convenções de gênero, mas sem nunca perder o brilho de sua história. O diretor sabe conduzir bem a sua trama, introduzindo partes do quebra-cabeça e pequenos detalhes que podem soar artificiais, até o momento em que ele revela as suas cartas e surpreende seu público.

Há ótimos conceitos ao redor da obra, um deles é o fato da Annie (Toni Collette) construir maquetes e o diretor/roteirista se utiliza desse ponto de narrativa, fazendo a personagem transformar acontecimentos ao seu redor em maquetes (outro elemento bem desenvolvido é a casa, que é consideravelmente enorme, mas é filmada de forma claustrofóbica). A Atmosfera que é criada, deixa o espectador sem respirar até o ótimo encerramento, que levanta mais perguntas do que responde. E, fechando os elogios ao texto, temos os Diálogos, que impulsionam a loucura da narrativa, até nos momentos mais "triviais" do longa (vale destacar uma cena envolvendo a personagem da Toni Collette, do Gabriel Byrne e do Alex Wolff jantando, que tem a melhor conversa do filme).

Quem dá a força necessária ao (maravilhoso) texto do Ari Aster é o Elenco: A Toni Collette constrói perfeitamente a loucura crescente de sua personagem. Uma boa atuação nasce nos detalhes, quanto mais características o (a) ator (atriz) adicionar ao seu (a sua) personagem, maiores são as chances dele (dela) cria uma figura memorável, e a qualidade dessa atuação chega a esse ponto. A construção da sua personagem é simplesmente genial, desde os detalhes menores (as microexpressões das suas reações) até os momentos mais "grandiosos" (a sequência do jantar), é a minha interpretação favorita de 2018.

Mesmo com o brilho da Toni Collette, o resto do casting está impecável. O Alex Wolff é a integração do espectador naquela situação, a todo momento fica visível o quão apavorado o personagem dele se encontra, ele permite a criação de um laço com o público. O Gabriel Byrne é o compasso emocional da família, ele é quem tenta manter a calma dentro da casa, e dentro dessa característica, ele funciona perfeitamente. A Milly Shapiro aparece menos que eu presumia, mas cria uma personagem bastante... estranha.

O primor da obra se estende aos aspectos técnicos: A Cinematografia do Pawel Pogorzelski (outro iniciante em um longa-metragem, assim como o diretor) exibe um cuidado impressionante no que diz respeito as composições escuras, utilizando perfeitamente a iluminação "natural" para rechear os ambientes, o jogo de sombras do cinematógrafo é impressionante, assim como o jogo de cor, com tonalidades quentes, imprimindo uma discordância com a atmosfera da trama (já que as cores quentes servem para deixar o ambiente mais "acolhedor").

Falando em ambiente, o Design de Produção do Grace Yun, Richard T. Olson e Deborah Wheatley (dois deles trabalharam no recente First Reformed) recheiam a casa da família de elementos cênicos com tonalidades bege e marrom, e, assim como as cores quentes, imprimem discordância (cores bege/marrom em decorações internas, servem ao propósito de estabelecer a calma naquele ambiente). O Jogo de Câmera é enervante, ela passeia pelos ambientes com uma calma absurda e, há um momento no ato-final, onde a câmera possui um controle impecável, em meio a energia do acontecimento.

O controle dos enquadramentos é impecável, há diversas cenas onde o plano se mantém estático, permitindo o ator/atriz a trabalhar suas reações com maestria. A Trilha Sonora do Colin Stetson é enervante e incita a tensão, até nos momentos onde absolutamente nada de sobrenatural está ocorrendo na cena. O Design de Som é desconfortável e complementa a trilha, incitando o nervosismo no espectador. A Montagem do Lucian Johnston e da Jennifer Lame (que trabalhou em filmes do Noah Baumbach, como o recente The Meyerowitz Stories) cria um vácuo entre as cenas e complementa a atmosfera da obra.

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Título Original: Hereditary

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Ano: 2018

Direção: Ari Aster

Roteiro: Ari Aster

Elenco: Toni Collette, Milly Shapiro, Gabriel Byrne, Alex Wolff, Ann Dowd

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