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Sangue Negro

  • João Marco
  • 19 de ago. de 2018
  • 3 min de leitura

Um dos filmes que estavam na corrida para o Oscar 2018 era Trama Fantasma, na qual achei um filme bom, mas não consegui entender a adoração por trás da obra e, principalmente, por quê essa adoração toda ao Paul Thomas Anderson. Durante esses meses que se passaram, vi muitas críticas/análises sobre a obra e me perguntava: "eu acho que não a compreendi" e principalmente, comecei a achar que, pelo fato daquele ser o primeiro filme que vi do diretor, não fui preparado. Pois bem, agora quero rever Phantom Thread, porque tenho certeza que estava errado...

Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) e seu filho, H.W. Plainview (Dillon Freasier) são caçadores de petróleo, que perfuram poços na Califórnia no início do século XX. Eles são desafiados por um jovem pastor, Eli Sunday (Paul Dano), cuja ambição pessoal é confrontada por Plainview. A luta entre os dois é o centro dessa conflitante, trágica e histórica jornada ao abismo da loucura causada pela corrupção, fraude e petróleo.

A Direção do Paul Thomas Anderson é impecável e leva o espectador a esse universo da industria do petróleo no inicio do século XX, mas, There Will Be Blood não é sobre a busca pelo cobiçado "ouro negro", e sim, um estudo profundo do caráter de homens repudiáveis e dos males humanos. O diretor movimenta a narrativa sem pressa alguma, são 2h e 38min perfeitamente dosados e que caminham lentamente, quem não tiver a paciência necessária para absorver a experiência proposta pelo filme, vai odiar Sangue Negro.

O Roteiro, escrito pelo Paul Thomas Anderson (e baseado no romance de Upton Sinclair) é repleto de ambiguidade. Há várias histórias sendo contadas aqui: há uma trama sobre a exploração petrolífera no começo do século XX, outra sobre uma relação fria entre pai e filho, há outra sobre o uso da religião como forma de lucrar na fé, a busca pelo poder, todas as sub-tramas tem seu espaço e levam a história principal, que aborda com maestria, o comportamento de um ser humano misantrópico e sociopata que precisa estar entre pessoas para conquistar o seu objetivo.

E aí que entra a interpretação assustadora do Daniel Day-Lewis, que, por um lado, expressa uma calma enervante, mas que, aos poucos, começa a transparecer sua frieza e seu ódio constante pela humanidade (inclusive, há uma cena com um "parente" seu, que ele expressa a sua fúria e desinteresse pelo ser humano), é um personagem detestável, frio e calculista, chegando ao ponto de se batizar em uma igreja local, para poder explorar o petróleo daquelas terras (numa cena absolutamente maravilhosa). Os Diálogos são sensacionais, cheios de intensidade dentro da trivialidade, e com indagações excepcionais.

Outro que arrebenta é o Paul Dano, construindo Eli Sunday como um personagem odiável por se utilizar da fé alheia como forma de adquirir poder e riqueza, as interações entre ele e o Daniel Plainview são concebidas com perfeição, e uma das melhores sequências de Sangue Negro (que eu não irei comentar sobre, por englobar detalhes do terceiro ato), envolve os dois personagens.

O Apuro técnico de There Will Be Blood merece destaque: A Cinematografia do Robert Elswit (que trabalhou recentemente em Nightcrawler e outros filmes do Paul Thomas Anderson) realça as paisagens áridas da Califórnia, com uma coloração que transita entre tons quentes e bege, contrastando com a constante escuridão das sequências noturnas, que são complementadas pela entrada da luz no ambiente, de forma bem sutil.

A Trilha Sonora do Jonny Greenwood (figura de destaque na filmografia do diretor) é um pesadelo musical absolutamente impressionante, com composições desconfortáveis e fora de tom, que refletem o interior distorcido de seus personagens. O Jogo de Câmera é paciente, se deslocando com calma entre as sequências, os planos são alongados, com a intenção de demonstrar o interior de seus personagens na cena.

A Montagem do Dylan Tichenor (outro grande parceiro do diretor) permite que a trama se desloque com a paciência necessária para abordar com cuidado as diferentes linhas narrativas da trama. O Design de Produção do Jack Fisk e David Crank e o Figurino do Mark Bridges e Eden Clark Coblenz realçam o tom frio e desesperançoso, impondo tons de bege e escuros, que imprimem a atmosfera crua e realista daquele ambiente.

There Will Be Blood é cinema na sua forma mais pura: tudo perfeitamente alinhado e todos os elementos complementando uns aos outros. Um brilhante estudo de personagem e uma verdadeira obra-prima da sétima arte.

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Título Original: There Will Be Blood

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Ano: 2007

Direção: Paul Thomas Anderson

Roteiro: Paul Thomas Anderson

Elenco: Daniel Day-Lewis, Paul Dano, Ciarán Hinds, Dillon Freasier, David Willis, Paul F. Tompkins, Russell Harvard.

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