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Corra!

Vencedor do Oscar de "Melhor Roteiro Original"

Normalmente, os filmes de "gênero" tem menos oportunidades no circuito de premiações, por não fazerem parte do nicho específico desses prêmios (Normalmente, os dramas e projetos distribuídos de forma independente), mas há exceções de obras cinematográficas tão perfeitas e que conseguem chacoalhar o mundo do cinema de forma tão impressionante, que conseguem conquistar o reconhecimento que merecem, e aqui temos o maior exemplar dessas obras nos últimos anos. Chris (Daniel Kaluuya) é jovem negro que está prestes a conhecer a família de sua namorada caucasiana Rose (Allison Williams). A princípio, ele acredita que o comportamento excessivamente amoroso por parte da família dela é uma tentativa de lidar com o relacionamento de Rose com um rapaz negro, mas com o tempo, Chris percebe que a família esconde algo muito mais perturbador.

Antes de avaliar Get Out pela sua proposta, temáticas e discussões sociais ou seus méritos cinematográficos, é necessário ressaltar a genialidade de seu diretor e roteirista, Jordan Peele. Antes de ganhar o mundo com esse filme, Jordan era um comediante conhecido pelo seu trabalho no programa de humor Key & Peele. Ele era reconhecido pela sua veia cômica e não pelo seu talento de coordenar um Thriller de terror psicológico. Então, imagina a surpresa de quem já acompanhava o seu trabalho como humorista, ao ver ele conduzindo um drama/mistério/horror com indagações socialmente relevantes!

Por isso mesmo que o maior acerto e o charme (se é que podemos chamar assim) de Get Out está no seu Roteiro (escrito pelo próprio Jordan Peele). Além de perfeitamente satírico e provocante, a obra nunca se perde em sua seriedade, graças ao Tom da trama, que transita entre o "thriller de horror", uma crítica sobre o racismo e momentos de humor absolutamente hilários, a medida que a obra começa a ficar muito agressiva, o diretor/roteirista insere com cuidado uma sequência de humor muito engraçada, mas sem nunca destoar do resto de sua narrativa.

Como eu havia dito antes, Corra! é mais que um "filme de gênero" e muito disso se deve as fortíssimas indagações sociais sobre racismo e a forma que os negros são tratados nos Estados Unidos. A Sequência do Leilão no segundo ato intensifica com maestria, diversos questionamentos e referências a época da escravidão nos país (além de enfatizar o fato de que há algo estranho acontecendo alí), há diversos momentos como esse, espalhados pela história. Possivelmente, o maior mérito de Get Out é mostrar ao espectador (da forma mais visceral possível), como o racismo é algo horroroso e cruel. A sequência final é impressionante, justamente pelo fato de demonstrar ao público, quais seriam as consequências de um Negro em uma situação daquela.

A forma que o Jordan Peele movimenta a história é impressionante. Além dos excelentes questionamentos sobre racismo, o filme ainda trabalha perfeitamente elementos do gênero na qual ele pertence: O Horror. A Narrativa é cuidadosa, se utilizando da estrutura de três atos para criar um clima de tensão no espectador. O desenrolar da trama é instigante, o texto mexe com sua paranoia e instiga a sua curiosidade, e quando chega ao Clímax, o impacto é gigantesco e o diretor se diverte com a liberdade de utilizar a escatologia. Fechando todos os elogios ao texto, o mesmo vem acompanhado de Diálogos provocativos e interações que permitem peças do quebra-cabeça ao espectador.

E para isso poder funcionar, o Elenco precisava brilhar igualmente, e nem é necessário dizer que isso é conquistado aqui. O Daniel Kaluuya é o olho do espectador, o seu personagem consegue criar um elo com o público, nos projetamos na sua personalidade e conseguimos acompanhar todos os acontecimentos pelos olhos do Chris. E, especialmente no ato-final, a fisicalidade do ator é impressionante, ele expressa bem o desconforto e confusão mental de sua persona, além do excelente trabalho que o ator faz com os olhos. A Allison Williams está irretocável aqui. Ela começa vendendo uma personagem doce e consoladora, que (assim como o Chris) não faz ideia do que está acontecendo e, aos poucos, começamos a desvendar sua personagem, até o momento que o filme decide entregar suas cartas, é uma atuação primorosa. O Bradley Whitford, a Catherine Keener e o Caleb Landry Jones fazem obstáculos bem imponentes e o LilRel Howery constrói bem o bom humor de seu personagem.

Tecnicamente, Get Out é maravilhoso: O Jogo de Câmera é impecável, se mantendo controlada nas cenas mais calmas, e entrando em colapso, (com o uso da câmera fora do eixo) no terceiro ato, criando um ótmo senso de adrenalina. A Cinematografia do Toby Oliver e Denson Baker criam sequências noturnas fantásticas, se utilizando bem da luz natural. A Trilha Sonora do Michael Abels incrementa a atmosfera de paranoia, com composições desconcertantes. E também merecem destaque, o Design de Som e a Montagem do Gregory Plotkin (responsável pelo recente A Noite do Jogo).

Get Out é uma das maiores obras primas dessa década, subvertendo todas as notas batidas de produções do gênero (que vem nos decepcionando nas últimas décadas) e acrescentando uma história instigante e indagações temáticas magnificas. Definitivamente, o melhor filme de 2017.

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Título Original: Get Out

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Ano: 2017

Direção: Jordan Peele

Roteiro: Jordan Peele

Elenco: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford, Catherine Keener, Li Rel Howery, Lakeith Stanfield, Caleb Landry Jones, Betty Gabriel, Marcus Henderson.

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