Ilha dos Cachorros
- João Marco
- 3 de jul. de 2018
- 3 min de leitura

Atari Kobayashi (Koyu Rankin) é um garoto japonês de 12 anos de idade. Ele mora na cidade de Megasaki, sob tutela do corrupto prefeito Kobayashi (Kunichi Nomura). O político aprova uma nova lei que proíbe os cachorros de morarem no local, fazendo com que todos os animais sejam enviados a uma ilha vizinha repleta de lixo. Mas o pequeno Atari não aceita se separar do cachorro Spots (Liev Schreiber). Ele, então, rouba um jato em miniatura e parte em busca de seu fiel amigo. A aventura vai transformar completamente a vida da cidade.
A Direção é do incansável Wes Anderson, responsável pelo excelente The Grand Budapest Hotel (2014). Ele é um "gosto adquirido", mas seus filmes tem um apuro técnico impressionante, algo que se destaca bastante aqui, daqui a pouco, eu abordo isso com mais precisão. O diretor sempre dá uma aula de Ritmo em seus trabalhos, a trama está sempre em movimento, o proposital excesso de acontecimentos ajuda a empurrar a narrativa, em vez de deixa-lá inchada e sobrecarregada de informações.
O Roteiro é perfeito. A História é bem simples, mas objetiva, a ideia dos cachorros serem abandonados em uma ilha, é perfeita e permite um ponto de vista dos cães sobre a dimensão daquela situação. Há, pelo menos, cinco ou seis cenas fora da ilha, que são dizem muita coisa e acabam avulsas na história, desviando o foco dos acontecimentos com os cachorros. A criação do universo é brilhante, especialmente pelo fato da organização social entre os cães serem idêntica a nossa, especialmente nos relacionamentos dos personagens. Os Diálogos são ótimos e extremamente inventivos, as interações funcionam bem, especialmente no grupo principal.
A Estrutura Narrativa desenvolve a história, através de blocos, onde os elementos ao redor daquele universo são desenvolvidos, orquestrando o excelente Ato-Final com uma mensagem interessante sobre o amor com os animais (especialmente, os de estimação). Além disso, a trama desenvolve um senso cômico excepcional, o Humor funciona perfeitamente, tudo a base da sutileza de certas cenas.
A Animação é espetacular, o Stop-Motion é aquele tipo de técnica, que, parece não impressionar mais, mas a cada filme conquista o coração do espectador, com algum elemento diferenciado, os detalhes são impressionantes, reparem na movimentação dos pelos dos cachorros e você entenderá o que eu quis dizer. O cuidado com as composições é impecável.
Muito disso se deve ao trabalho de Design de Produção, repleto de adereços cênicos e com uma devida atenção aos pequenos detalhes do ambiente, criam um universo muito real (mesmo sendo feito de massa de modelar). Detalhismo é o nome do jogo em Isle of Dogs, com um cuidado absurdo em absolutamente tudo. Os Planos realçam o universo, como o uso de planos, onde um personagem está em primeiro plano, mas ainda é possível observar os acontecimentos em paralelo à aquele enquadramento.
A Cinematografia é ludicamente espalhafatosa e cheia de cores nas sequências da cidade, como de costume nos trabalhos do Wes Anderson, contrastando com as cores secas e beges da ilha dos cachorros, a Iluminação simples e cuidadosa, ocupando bem o seu espaço cênico. O Jogo de Câmera é ágil, com os costumeiros travellings frontais e movimentos acelerados que o diretor sempre usa, criando um estilo próprio para sua animação.
A Trilha Sonora do Alexandre Desplat evoca com perfeição o universo oriental da produção, com uma mistura consistente entre um violão melodioso e um tambor instigante, reforçando o senso energético do filme. Outro elemento que segue esse estilo é a Edição, com cortes ágeis, boas transições entre as ambientações, sem nunca perder a continuidade da sua história.
O Trabalho de Dublagem é excelente, não veja esse filme em dublado: O Bryan Cranston dá camadas adicionais a personalidade sofrível do Chief, assim como o Edward Norton, Bob Balaban, Bill Murray e Jeff Goldblum conseguem injetar humor e carisma na dinâmica entre eles. A Greta Gerwig faz uma personagem paranoica e revolucionária, a simplicidade na voz e na personalidade de sua personagem fez com que eu me identificasse muito com a Tracy. A Scarlett Johansson faz um excelente trabalho, embora apareça pouco. O mesmo vai para o F. Murray Abraham, Tilda Swinton e o Liev Schreiber.
Isle of Dogs é uma verdadeira carta de amor aos animais domésticos, cheio de alma e beleza com um texto excelente e um trabalho de dublagem impecável (não veja em dublado, preserve sua experiência), é a melhor animação de 2018 até agora.
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Título Original: Isle of Dogs
Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐
Ano: 2018
Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson, Roman Coppola, Jason Schwartzman e Kunichi Nomura
Elenco: Bryan Cranston, Koyu Rankin, Edward Norton, Jeff Goldblum, Bob Balaban, Bill Murray, Greta Gerwig, Frances McDormand, Scarlett Johansson, Harvey Keitel, F. Murray Abraham, Tilda Swinton, Ken Watanabe, Liev Schreiber, Anjelica Huston.
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