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Uma Dobra no Tempo

  • João Marco
  • 3 de jul. de 2018
  • 4 min de leitura

Gostaria realmente de saber o que diabos aconteceu durante a produção desse filme? Você têm um livro respeitado, um elenco cheio de estrelas (Oprah Winfrey!), um visual lúdico absolutamente bem feito, uma diretora espetacular e a competência das produções da Disney e sai isso? Essa coisa? Eu não consigo entender.

Os irmãos Meg (Storm Reid) e Charles (Deric McCabe) decidem reencontrar o pai (Chris Pine), um cientista que trabalha para o governo e está desaparecido desde que se envolveu em um misterioso projeto. Eles contarão com a ajuda do colega Calvin (Levi Miller) e de três excêntricas mulheres (Oprah Winfrey, Reese Witherspoon e Mindy Kalling) em uma ousada jornada por diferentes lugares do universo.

A Direção é da Ava DuVernay, que dirigiu o elogiado Selma (2014) e o sensacional The 13th (2016), mas aqui, fica nítido que a diretora não teve a liberdade para trabalhar os melhores elementos de seus outros trabalhos nesse filme. São tantas coisas mal-arquitetadas, que chega a dar pena de uma diretora como a Ava, estar envolvida com esse troço. E todos os problemas de A Wrinkle of Time afeta duas coisas fundamentais em uma aventura: Ritmo, os acontecimentos da trama são tão desinteressantes, mas se estendem por muito tempo, dava para tirar 20 minutos dali e o Tom, não há uma ordem entre humor e seriedade, o que acaba tirando a essência de certas cenas.

O Roteiro é terrível. A História tem potencial, mas por conta do péssimo desenvolvimento narrativo, acaba se tornando enfadonha e repetitiva, mesmo com uma mensagem interessante a respeito do amor. Há um excesso absurdo de conceitos que poderiam ser bem trabalhados e desenvolvidos ao redor da trama, mas são completamente desperdiçados e sub-trabalhados (como o tesserato, por exemplo). Os Diálogos são cafonas, absurdamente artificiais, cheios de frases de efeito patéticas e uma dependência constante de exposição barata, sem permitir que seu público desvende o universo, jogando as respostas de bandeja para o espectador.

Há também um excesso ridículo de Facilitações Narrativas, chamando o espectador de idiota (por exemplo, a "bully" da história morar ao lado da protagonista e ver a mesma conversando com o menino "popular"). O Humor é horroroso, com piadas absolutamente sem graça e momentos comicamente nulos, que funcionariam menos separadamente, quem dirá em conjunto. Há também muitas cenas emocionalmente manipulativas, que tentam "emocionar" o público, sem nenhum desenvolvimento de laços entre os personagens e a partir de flashbacks (por favor...), aliás, o desenvolvimento dos personagens é completamente horrível.

Agora, se o filme perde seus méritos em roteiro (e quantos méritos ele perde...), ele ganha pontos com relação a criação visual do seu universo, com uma inventividade grandiosa em sua escala, nos pequenos detalhes e a devida atenção aos mesmos. E mesmo com todo esse vislumbre visual, não há o interesse de explorar aquele universo. Há uma cena aérea que tenta fazer isso (inclusive, copiando as cenas de voo de Avatar), mas não é o suficiente.

Visualmente, é onde a Ava DuVernay mais brilha aqui: A Cinematografia utiliza tonalidades frias e secas nas sequências na Terra, já nos outros universo, predominam as cores vivas, especialmente o azulado e esverdeado. Os Planos-Abertos realçam as composições oníricas dos universos, com Panorâmicas belíssimas, exaltando a qualidade técnica do filme. O Jogo de Câmera acompanha isso, seguindo pelo ambiente com uma calma absolutamente delirante.

Os Efeitos Visuais, com uma ou outra exceção, são impressionantes e ajudam a construir esse universo lúdico e viajante, como as modelações na matéria, por exemplo. A Maquiagem é super detalhada e inventiva, assim como o Figurino e o Design de Produção, que permite momentos visualmente espetaculares.

Mas nem tudo são flores: a Trilha Sonora do Ramin Djawadi é genérica e horrorosamente manipulativa (assim como 60% do filme), com melodias engrandecedoras e épicas, que são sub-utilizadas. As escolhas musicais são catastróficas e não compactuam com o Tom da narrativa. A Edição é tenebrosa, com cortes ilógicos (numa cena os personagens estão conversando com um estranho, na outra, os três estão jantando e em momento algum foi mostrado aquela terceira pessoa sendo convidada!) e passagens de tempo completamente abruptas.

O Elenco é inconsistente. A Storm Reid tenta criar uma personagem astuta e inteligente, mas fracassa miseravelmente (rimou!). O Deric McCabe é horrível, inexpressivo, além da péssima decisão do roteiro, de dar mais "relevância" a esse personagem. O Levi Miller, que é bom ator, está completamente esquecível e inútil aqui. A Oprah Winfrey funciona bem, mesmo que não pareça uma personagem, a Reese Witherspoon exagera bastante em sua caracterização, mas é uma personagem divertida, assim como a Mindy Kaling, que está um pouco menos contida aqui. Já o Chris Pine e a Gugu Mbatha-Raw são talentos desperdiçados.

A Wrinkle in Time tem bons conceitos, uma ótima diretora, o apuro (e o dinheiro) da Disney, e um excelente elenco nas mãos, e joga tudo para os ares, com uma história cansativa, um texto estúpido, realçado por efeitos visuais maravilhosos.

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Título Original: A Wrinkle in Time

Nota: ⭐

Ano: 2018

Direção: Ava DuVernay

Roteiro: Jennifer Lee e Jeff Stockwell

Elenco: Storm Reid, Oprah Winfrey, Reese Witherspoon, Mindy Kaling, Levi Miller, Deric McCabe, Chris Pine, Gugu Mbatha-Raw, Zach Galifianakis, Michael Peña, Rowan Blanchard, David Oyelowo.

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