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A Balada de Buster Scruggs

  • João Marco
  • 17 de nov. de 2018
  • 3 min de leitura

Expectativa. Talvez seja o elemento principal que vai determinar se você irá ou não gostar de uma obra. Entrei nesse novo filme dos irmãos Joel e Ethan Coen (na qual sou um dos maiores fãs de sua filmografia) achando que teria uma experiência avassaladora e terminaria absolutamente empolgado (sensação semelhante a que tive ao assistir Onde os Fracos Não Tem Vez, dirigido pelos próprios Coen) e saí com a sensação de não ter curtido tanto assim. Após um pouco de reflexão, compreendi de vez a genialidade do que tinha acabado de ver, mas vamos com calma...

Os aclamados irmãos Coen idealizam uma antologia faroeste em seis segmentos focada na fronteira americana. A primeira é sobre o personagem-título do filme, a segunda fala sobre um bandido, um roubo mal-sucedido e suas consequências, a terceira é sobre um gerenciador de shows e seu assistente, a quarta é sobre um sujeito destinado a achar ouro, a quinta é sobre uma menina que assume toda uma caravana e a última consiste em uma conversa peculiar entre cinco personagens distintos dentro de uma diligência.

A Direção é dos Irmãos Coen, que dispensam grandes apresentações: No Country For Old Men (2007), Fargo (1996), The Big Lebowski (1998), True Grit (2010), eles raramente erram. Aqui, eles decidiram arriscar novamente em um faroeste (a tentativa anterior acabou gerando o excelente Bravura Indômita) e os diretores decidiram utilizar uma abordagem diferenciada que funciona perfeitamente dentro do gênero Western, o fato de não ter uma "história" central, e sim, vários contos avulsos e sem conexão uns entre os outros. Ou seja, uma antologia.

E aí se encontra uma das genialidades do exemplar roteiro, escrito pelos próprios Irmãos Coen: o fato da imprevisibilidade. O espectador é introduzido essas histórias sem saber qual será a linha narrativa adotada e sem a menor ideia do seu desfecho, gerando as cenas mais imprevisíveis de 2018. Quase todas as histórias são excelentes e absolutamente interessantes, e eu digo "quase", pois o único defeito do filme seria o terceiro conto, que além de desinteressante, é o mais desconexo de todos, fora isso, as outras histórias são muito bem escritas, ostentando as principais marcas da carreira dos diretores, como a mistura entre drama e humor negro.

E já que citamos ele, o humor negro dos Coen é incomparável. Poucos diretores em atividade sabem trabalhar tão bem a comédia dentro da tragédia sem nunca ficar ofensivo ou exagerado, e aqui está um excelente exemplo de, quando bem utilizado, a tragicomédia gera boas risadas. Completando o texto, ainda temos os excelentes diálogos, perfeitamente bem elaborados, verbalmente elegantes e com um teor humorístico bem inserido.

Visualmente, não é tão absurdo como outras obras da filmografia dos diretores, mas ainda consegue ser deslumbrante: A Cinematografia do Bruno Delbonnel (que trabalhou com os diretores em Inside Llewyn Davis) é muito eclética, se adaptando ao tom dos contos, então, quando a história é mais melancólica e depressiva, o uso das cores é predominantemente azulada e assim por diante, o trabalho de Iluminação é impressionante, especialmente nos ambientes fechados.

A reconstrução de época é impressionante: o design de produção é meticuloso em recriar o visual de velho oeste, o detalhismo em ambientes internos é sensacional e muito criativo, o figurino também merece destaque em relação a quantidade de detalhes das vestimentas dos personagens, a ambientação dos contos é perfeita, geralmente se passando em ambientes ensolarados, é uma obra esteticamente impressionante.

A Trilha Sonora do Carter Burwell (outra figura reincidente na filmografia dos diretores, além de ter composto a excelente trilha do sensacional Três Anúncios Para um Crime) consegue evocar a maestria das trilhas de faroestes clássicos, sem nunca ficar exageradamente nostálgica. O Jogo de Câmera é paciente, com um bom uso de movimentos horizontais e ágeis, que lembram o trabalho do Wes Anderson. A Montagem faz um ótimo trabalho de ordenar os contos de forma fluída, é um ótimo trabalho feito pelos próprios Coen.

O Elenco é gigantesco: Tyne Daly, Harry Melling, Saul Rubinek, Bill Heck, Grainger Hines estão muito bem e servem a história. O Jonjo O'Neill e o Brendan Gleeson estão ótimos como personagens gentis, mas que escondem algo mais soturno por trás. O Tom Waits e o Liam Neeson estão muito bem como dois personagens obstinados por motivos "semelhantes". Mas o destaque vai para três atores em especial: Zoe Kazan, que imprime uma doçura e inocência no olhar; James Franco que adere ao estilo tragicômico dos diretores e o Tim Blake Nelson, que ingere carisma e personalidade ao Buster Scruggs, Controle suas expectativas e você terá em A Balada de Buster Scruggs um dos melhores filmes de 2018.

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Título Original: The Ballad of Buster Scruggs

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Ano: 2018

Direção: Joel e Ethan Coen

Roteiro: Joel e Ethan Coen

Elenco: Tim Blake Nelson, Willie Watson, James Franco, Ralph Ineson, Liam Neeson, Harry Melling, Tom Waits, Zoe Kazan, Brendan Gleeson, Jonjo O'Neill, Tyne Daly

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