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Vingadores: Ultimato


Despedida. Algo extremamente difícil de se realizar, independente da circunstância em que se encontra: seja por aquela pessoa que nunca mais irá ver novamente, ou por um ente querido ou qualquer outro motivo. E, a partir desse alicerce que se constrói a espinha temática central do vigésimo segundo filme do Universo Cinematográfico Marvel. Pois, um dos principais sentimentos dentro da mistura de sensações que a obra transmite é o "adeus" a todo aquele status-cor que já estávamos acostumados. Aqui, temos mais que somente um "final" de uma franquia, todos os envolvidos nesse projeto criam uma verdadeira carta de amor aos fãs em forma de cinema. Mas a pergunta é: funcionou?

Sim. Muito.

Após a dizimação da humanidade realizada pelo titã Thanos no filme anterior, os Vingadores precisam lidar com a dor da perda de amigos e seus entes queridos. Mais do que somente o luto, o grupo dos remanescentes precisam encontrar uma forma de reverter a situação ao seu favor. E para isso, Tony Stark, Steve Rogers, Thor, Bruce Banner, Natasha Romanoff, Clint Barton, James Rhodes, Scott Lang e Nebula se reúnem para tentar a "cartada final" e encontrarem uma forma de salvar o universo.

É muito difícil comentar sobre "Ultimato" sem revelar detalhes importantes da narrativa, mas tentarei fazer o meu melhor. Os irmãos Russo voltam a direção do filme ao lado dos roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely para juntos criarem o desfecho perfeito da "saga do infinito" (na qual o produtor Kevin Feige nomeou o conjunto das 22 obras). Aqui, eles exercem dois elementos importantes para que esse encerramento pudesse funcionar: primeiro, uma trama muito bem trabalhada e que não cai em desorganização narrativa e a segunda, que são os personagens.

Em termos de envolvimento emocional, esse talvez seja o melhor filme do estúdio: cada um dos personagens já passaram por um desenvolvimento relativo de suas personalidades, o objetivo de Endgame era trabalhar as interações - especialmente os diálogos - entre as "peças do tabuleiro" e evoluir a jornada e o propósito de cada um daqueles envolvidos, tarefa que os diretores e roteiristas conquistam com brilhantismo, além de nesse meio, introduzirem discussões válidas sobre luto e a dor de uma perda. É tanto que o primeiro segmento do filme é o mais dramático e pesado, em certas ocasiões, embora o costumeiro senso de humor das obras do estúdio ainda se faça presente.

Aliás, ao citar isso, acaba puxando o único defeito de Ultimato: o Tom. Há momentos sérios, dramáticos e até fortes para um filme desse gênero, mas que são intercalados com sequências de humor que adentram abruptamente na narrativa e, mesmo que muita delas funcionem, algumas perdem o impacto devido a sua introdução dentro da obra. A forma orgânica como cada um dos personagens tem o seu momento e como o roteiro sabe dar importância a boa parte deles é o charme aqui, é claro que não dava para todos terem uma participação ativa, algo que acontece com uma das peças mais importantes do jogo que é renegada pelo texto.

Ao menos, a maior parte deles são bem trabalhados. Ofereço um destaque especial a Nebula, que o texto trabalha com um pouco mais de atenção e que a narrativa entrega mais para a competente Karen Gillan expressar o sofrimento que sua personagem enfrentou durante anos. Outro destaque válido é a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro com uma clara evolução de suas personalidades e uma mudança brusca, porém boa em seus comportamentos, sem falar na destreza de Scarlett Johansson e Jeremy Renner que, a essa altura do campeonato, já conhecem bem as figuras que interpretam. O Don Cheadle serve mais como um "alívio cômico" e até funciona bem, mas sofre com pouco desenvolvimento.

E, claro, temos os dois personagens pilares desse filme: Tony Stark, a qual Robert Downey Jr. interpreta com um carinho muito notável, trocando consistentemente entre momentos mais cômicos e cenas onde se exige o peso dramático do ator, que demonstra com uma enorme perfeição. O Steve Rogers, na qual muitos fãs da Marvel não curtiam, está melhor do que nunca, com uma imponência e presença que demonstra o senso de liderança do Capitão América. Ambos os arcos são muito bem construídos e tem encerramentos gloriosos, mas logicamente, só posso dizer isso. Sobre o Thor e o Bruce Banner, não se pode comentar nada, pois qualquer informação é um spoiler, mas os dois estão muito divertidos.

Em relação a história, mais uma vez, pouco se pode descrever, pois qualquer detalhe pequeno pode se tornar um enorme spoiler, mas dá pra dizer que é uma trama inteligente, com um plano esperto e bem utilizado no segundo ato que trabalha com um recurso narrativo não muito original, porém a forma que é executada faz total diferença no resultado final. A Estrutura de três atos faz uma espécie de homenagem ao primeiro filme dos Vingadores, já que o primeiro ato é focado na reunião e o terceiro é onde reside os momentos mais empolgantes e apoteóticos da obra, além das maiores surpresas, a quantidade de fanservice é absurda e o melhor: todos tem uma justificativa plausível, são 20 minutos de pura adrenalina, que tem um encerramento épico.

Tecnicamente, não há defeitos: a Cinematografia é deslumbrante, com um uso constante de tons azulados que imprimem a sensação de tristeza no ambiente, os enquadramentos são dignos de uma HQ, além do controle de câmera dos irmãos Russo, com um bom emprego do shake-in-cam como forma de desestabilizar emocionalmente o espectador e de trazer uma visão mais humana a trama. A Trilha Sonora do Alan Silvestri é grandiosa e épica, mas também consegue ser lenta e dramática, é um trabalho majestoso. A Montagem é muito disciplinada, especialmente no ato central e os Efeitos Visuais são inacreditáveis, com poucas cenas que ficam artificial.

"Avengers: Endgame" é uma conquista grandiosa para o MCU, a culminância de 11 anos de um bom planejamento resultou em um filme épico, grandioso e minimalista ao mesmo tempo, cuidadosamente bem escrito, emocionalmente carregado e visualmente deslumbrante. Repito o que disse no início do texto: despedida é algo muito complicado, e, depois desse espetáculo de 3 horas de duração, nada será o mesmo nos próximos filmes do estúdio. Parabéns Marvel Studios, Irmãos Russo e todos os envolvidos com esse projeto, vocês fizeram história!

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Título Original: Avengers: Endgame

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Ano: 2019

Direção: Anthony e Joe Russo

Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely

Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Don Cheadle, Paul Rudd, Brie Larson, Karen Gillan, Tessa Thompson, Danai Gurira.

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